Mobile first é conceito importanteFecomércio: 69% dos internautas brasileiros tem o celular como principal acesso

Protagonista de uma revolução na comunicação, o smartphone é também o principal meio de acesso à internet no Brasil. Dados da Fecomércio-RJ (Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro) e do Instituto Ipsos mostram que 69% dos internautas brasileiros têm no celular sua principal ferramenta para navegar na web. A pesquisa dá a dimensão do alcance dos dispositivos móveis e alerta empresas, de diferentes segmentos, para a necessidade de construir sites que se adaptem à realidade. Para entender quais as melhores práticas para criar portais, a reportagem ouviu especialistas sobre o tema.

Professor de User Experience (UX) do curso de MBA em Marketing Digital da FGV (Fundação Getulio Vargas), Horácio Soares tem intimidade com o assunto. Segundo o especialista, que também dá aulas na Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso), usabilidade é atualmente uma palavra-chave no marketing digital. “O primeiro pensamento na construção de um portal, independentemente do dispositivo, deve ser que ele resolva problemas, seja útil”, conta.

Este olhar faz com que sejam secundárias questões estéticas, que costumam ganhar espaço no momento errado. "Quem procura informações ou serviços num site tem consigo necessidades e expectativas. É isso que uma página precisa atender primordialmente", resume.

A disciplina ensinada por Soares é coincidente com um conceito norte-americano famoso pelo mundo. O UX (User Experience) foi um termo cunhado por Donaldo Norman, ainda nos anos 1990, e tenta compreender o nível de satisfação do usuário ao navegar por um produto ou sistema. O que Norman não pensou, quando criou sua teoria, foi que diferentes dispositivos surgiriam dali para frente.

"As marcas tinham sites com versão para desktop e, de princípio, o que se fez no mercado foi espremer isso na tela de um celular", lembra o professor. “Com resultados catastróficos, é bom ressaltar, em termos de experiência do usuário. A letra ficava pequena, não era possível ter uma visão completa do portal”, acrescenta.

Com a evolução dos smartphones e a democratização do acesso à internet, o panorama foi mudando, impulsionado pela própria demanda. A partir daí apareceram os sites responsivos, que se adaptavam à tela de qualquer aparelho e, por fim, os projetos de portais pensados para cada tipo de plataforma.  

Hoje, a terceira hipótese é a que faz mais sentido, na visão de quem trabalha com UX. No caso dos smartphones, dispositivos que são bastante usados no Brasil, alguns cuidados especiais precisam ser tomados. O primeiro deles diz respeito ao “peso” do site, ou seja, o seu tempo de carregamento. “Precisa ser leve, o que significa um carregamento rápido”, ensina Soares.

Horácio SoaresSoares: usabilidade é palavra-chave para os sites

A interface é outra precaução necessária. "Uma boa interface é aquela que você nem percebe que existe", opina Soares. Para isso, o indicado é ter uma página clean, com menu bem posicionado e definido com suas opções, além de linguagem direta e layout dinâmico.

Conceitos para mobile

Questionado sobre quais conceitos são indispensáveis para um bom site mobile, o professor é direto. "Tem que equilibrar o objetivo da empresa com a experiência do usuário", define. Para Soares, a marcas devem ter em mente o objetivo a ser atingido. Na outra ponta, o usuário quer facilidade, agilidade e, principalmente, pensar pouco.

"Testes AB são boas maneiras de saber se o objetivo foi atingido. No que consiste isso? Monte duas versões, peça para usuários navegarem, colha informações e faça as comparações entre as opiniões dos usuários. A versão final deve ser construída a partir dos acertos nos dois portais avaliados”, explica Soares, que também trabalhou no Hotel Urbano. “Hoje, existem ferramentas que permitem monitorar e mapear toda experiência do usuário ao navegar em um site. Em cima disso, cria-se a versão mais adequada”, complementa.

Várias empresas que atuam somente na internet fazem isso. Em entrevista recente ao Hotelier News, Raquel Lima gerente de Território da Expedia, revelou que a empresa investiu US$ 1,2 bilhão em tecnologia. Nesse valor estão inclusos projetos para melhorar a experiência do usuário no site. "Fazemos cerca de 120 testes AB por mês", revelou.

Mobile como baliza

CEO e fundador da agência NovaHaus, especializada na criação de websites, Leandro Pires diz que a versão smartphone deve orientar a criação para os demais dispositivos. “É o que chamamos de conceito mobile first, em que se prioriza a navegação do celular durante a concepção do projeto", contextualiza.
 
"É muito mais fácil adaptar o conteúdo de um site mobile para um monitor grande do que o contrário. É por isso que o conceito mobile first se tornou tão presente no dia a dia das agências digitais", complementa Pires, destacando ainda o fato de o smartphone ser a porta de entrada principal do brasileiro na web. “Se sua marca tem grande volume de tráfego via smartphone, o site obrigatoriamente precisa ter uma boa versão mobile”, completa.

Leonardo PiresPires: turismo precisa de uma versão mobile eficiente

Análise de resultados

Tão importante quanto a aplicação dos conceitos que privilegiam os smartphones é a análise da eficácia disso. Pera medir os resultados, o dirigente da NovaHaus comenta que uma série de testes são aplicados. 

"É primordial pensar como o usuário e, para isso, nada mais indicado do que vê-lo navegando de verdade. É o chamado teste de usabilidade", introduz. Nesse processo a empresa analisa a postura de utilização e a execução de tarefas. A partir daí são determinadas as mudanças e os ajustes necessárias. 

"Muita gente esquece disso. Como, na maioria dos casos, quem projetou o site é quem testa o portal, e este conhece a fundo o projeto, acaba acreditando que todo mundo terá a mesma facilidade. Isso, entretanto, não é verdade e muito menos a realidade", ensina.

Para Soares, da FGV, a análise ou medição feita depois que o site está funcionando é o que valida todo o trabalho. "Quando a página entra em funcionamento temos finalmente os dados e informações", constata. "Neste momento, começamos a analisar conversão, abandono, navegação e assim por diante", acrescenta.

Importância no turismo

Para o mercado do turismo, atenção a esse ponto pode ser um “pulo do gato”. Alguns dados reiteram essa avaliação: estudo da Criteo, empresa especializada em tecnologia para m-commerce, diz que 34% das reservas de viagens no Brasil são feitas por smartphones. Além disso, números do Expedia mostram que, em 2017, a demanda por reservas via o dispositivo subiram bastante. Em São Paulo, por exemplo, a alta verificada foi de 65% frente a 2016.

Pires concorda que o turismo pode utilizar melhor a versão mobile. "Hoje, a maior parte dos viajantes usa mais celular do que computador para navegar na internet. Isso vale para o planejamento das férias. Nada melhor do que planejar as férias no conforto do seu próprio sofá", finaliza.

(*) Crédito da foto: pixabay/Jeshoots

(**) Crédito da foto: Retirada do perfil no Facebook

(***) Crédito da foto: divulgaçãoFirstCom