Três perguntas para - Olivier HicksHicks chegou ao país em 2016, após atuar na Ásia, África e Oriente Médio

O departamento de RH (Recursos Humanos) da Accor costuma ser certeiro. Ao longo dos anos, raros foram os executivos franceses que vieram trabalhar no país que não tinham um perfil que encaixasse com nossa cultura. Boa praças e simpáticos, fogem do imaginário clássico do francês “nariz em pé”. Desde 2016 no país, Olivier Hick não foge a essas características. 

E, veja bem, olhando a trajetória de Hick, é fácil entender a razão disso. Quase um cidadão do mundo, o executivo já trabalhou em diferentes partes do planeta, de Serra Leoa a Dubai. Esse contato com diferentes culturas facilita sua adaptação a qualquer lugar. E, sejamos honestos, o Brasil não é para amadores, mas também não é um lugar ruim de viver. É factível pensar que Hick curte sua jornada por aqui.

Como COO das marcas midscale da Accor na América do Sul, o executivo praticamente puxa “sozinho” a expansão da Accor no Brasil, mercado de forte perfil econômico. É bem provável também que ele lidere o processo de retomada e reabertura dos hotéis da empresa, que deve começar pelas marcas sob sua responsabilidade. Por tudo isso, nada mais natural do que convidá-lo para participar do Três perguntas para. Boa leitura!

Três perguntas para: Olivier Hick

Hotelier News: Como está seu otimismo em relação à retomada do mercado: grande, média ou pouca? Por que?

Olivier Hick: Enfrentamos claramente uma crise sem precedentes, num cenário em que a receita dos hotéis caiu abruptamente em um dia de março, sem sabermos ainda o que enfrentaremos à frente. Hoje, ainda temos mais de 80 hotéis abertos, com nível de ocupação baixo, porém nosso foco é 100% na saúde dos nossos hóspedes e colaboradores. Estamos atuando com a área operacional na definição de novos processos, novos protocolos de higiene, tanto para nossos clientes, quanto para nossas equipes. Pessoalmente, estou otimista em relação à retomada, que vai acontecer nas próximas semanas, mesmo que ainda não tenhamos a data certa. Claro que vamos precisar das companhias aéreas, da confiança das empresas a voltar a fazer negócios dentro de nossos hotéis. Acredito que as pessoas vão voltar a consumir e aproveitar. Por exemplo, acredito que teremos um retorno rápido dentro dos nossos hotéis de destinos de lazer, como Itu, Recife, Rio e Salvador.

Três perguntas para - Olivier Hicks_capaHick: equilíbrio entre ocupação e preço será fundamental na retomada  

HN: As marcas econômicas e midscale têm operações mais enxutas e certamente devem ser as primeiras a reabrir e a retomar demanda. Como estão os preparativos na Accor? 

OH: Verdade. É uma clara vantagem e uma grande oportunidade ter uma ampla seleção de marcas (11 na América do Sul), do luxo às econômicas, com padrões e qualidade fortes, forte reconhecimento do mercado, boa distribuição e grande poder de marketing. Vejo nossas marcas ibis (Ibis Budget, Ibis e Ibis Styles) desempenhando um grande papel na recuperação e isso permitirá que todos os clientes viajem com orçamento restrito, mas com padrões de qualidade e excelentes ofertas em A&B (Alimentos e Bebidas), tudo isso com profissionalismo e segurança. 

Será um período ideal para redescobrir nosso ibis Budget, que já oferece o melhor custo benefício no Brasil. Para as marcas midscale, como Mercure, Novotel e até Adagio, em 2019 ganhamos mais reconhecimento do mercado e isso continuará ainda mais forte e mais rápido. Certamente, usaremos essa crise sem precedentes para sairmos mais fortes, desenvolver novos processos de serviços, rever e desafiar nossos custos operacionais, higiene e garantir que nossos clientes sejam bem cuidados. Nosso programa exclusivo Heartist permitirá que nossas equipes estejam mais próximas do que nunca de nossos clientes.

HN: Pelo menos logo nos primeiros meses da retomada, a hotelaria vai buscar um novo breakeven. A Accor já revê processos e custos operacionais para permitir que o hotel fique rentável em um cenário de ocupação mais baixa. Na prática, e pensando em marcas econômicas, onde é possível cortar mais custos operacionais?  

OH: As marcas econômicas, por definição, já são o melhor modelo no cenário breakeven financeiro e conceito. A verdadeira questão é quanto volume podemos obter rapidamente para garantir que estamos no mesmo nível do ano passado ou, pelo menos, para recuperar um nível de rentabilidade aceitável para nossos parceiros e para nós. Obviamente, seremos muito cautelosos ao reabrir nossos hotéis e buscar um bom controle geral sobre o custo da folha de pagamento, buscar multi competências, compartilhar tarefas, sabendo que, nos últimos anos, temos sido muito ativos na busca de melhores reduções de custos, em sistemas, nosso poder de compra e, em geral, muito mais agilidade em nossos hotéis, e sem diminuir a qualidade.

Ao longo dos anos, sempre acreditei primeiro em aumentar o faturamento, desenvolvendo novos conceitos que aumentarão a fonte de receita, maximizando o rendimento, do que simplesmente cortando custos. Os hóspedes são cada vez mais exigentes ou, pelo menos, procuram mais diversão e mais animação dentro do hotel, mas a inflação continua sendo um desafio para todas as operadoras, especialmente porque tivemos dificuldades para aumentar nossas tarifas de quartos. A chave será um equilíbrio entre a ocupação do hotel e preços para sustentar nosso modelo de negócios.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/Accor