João Nagy - tres perguntasNagy tinha o desejo de ser piloto de avião

Com os pés no chão e a cabeça nas alturas, João Nagy é um empresário como poucos. Sem escritório ou secretária, o diretor do WTC Events Center é poliglota e caiu de paraquedas no setor hoteleiro como consequência de sua paixão por voar. Com formação de piloto, o executivo não tem medo de arregaçar as mangas e colocar a mão na massa.

Ainda jovem, tinha o sonho de conhecer o Brasil visto de cima, mas com o tempo percebeu que voar não seria uma profissão, mas sim um hobbie. Formado em Marketing, foi morar na África do Sul, onde trabalhou na área comercial da antiga Varig, em Joanesburgo e depois Cape Town, onde também atuou como supervisor de aeroporto.

Segundo Nagy, sua carreira na hotelaria começou por acidente. De volta ao Brasil em 1979, foi contratado pela Hotéis Othon, com apenas 21 anos. Por falar seis idiomas, galgou importantes posições cedo, embora ele mesmo diga não ser fluente em nenhum deles. Em seguida, foi chamado para ser sócio de um grupo italiano de agências de viagens.

Cansado da rotina de operadoras, firmou parceria com um ex-cunhado investidor no mercado imobiliário e proprietário de hotéis na Alemanha que estavam indo mal com o intuito de reposicionar os empreendimentos. Montou sua própria empresa na Suíça e foi administrar as unidades como representante da rede Kempinski, que atua no setor de alto luxo. Mais tarde, acabou comprando outras propriedades como o Hotel Atlantic Kempinski, em Hamburgo.

De volta ao Brasil, continuou como conselheiro da empresa suíça e iniciou sua trajetória no WTC como consultor. A parceria se tornou sociedade e hoje o complexo é um dos maiores centros de negócios da América Latina.

Três perguntas para: João Nagy

Hotelier News: O segmento Mice será um dos últimos a retomar as atividades. Diante deste cenário, qual a situação do WTC Events Center? Como o Centro de Convenções vem sobrevivendo à crise?

João Nagy: O WTC tem a vantagem de ser parte de um complexo que oferecia e continua oferecendo um conjunto ímpar de serviços para seus usuários. A torre de escritórios, o hotel e estacionamento não fecharam suas operações em nenhum momento. Naturalmente, a demanda devido ao isolamento social, cancelamento de voos e eventos foi consideravelmente reduzida. No Centro de Eventos, desde o primeiro momento, junto com o nosso parceiro R1 foram montados inicialmente um estúdio profissional para lives e hoje já são quatro espaços onde foram realizadas quase 300 transmissões desde o início da pandemia, sendo que a partir desta segunda passamos já para eventos híbridos. Não existe no Brasil um outro local que tenha uma estrutura montada neste momento no mesmo padrão que a nossa. Esperamos que através disto nossa agenda de eventos continue sendo preenchida pela clientela. Tivemos efetivamente uns dois ou três eventos que foram cancelados, enquanto os outros todos que estavam confirmados mudaram de data. Alguns para 2020, mas a maioria para 2021 e outros para 2022. Nós preferimos estar do lado dos otimistas, pois do lado dos pessimistas tem muita concorrência. Acreditamos que os eventos presenciais são fundamentais para o adequado desenrolar dos negócios e voltarão, sendo num primeiro momento a grande âncora da hotelaria, uma vez que viagens de negócios para encontros individuais vão levar mais tempo para retornar e certamente serão substituídas pelo mais assíduo uso de aplicativos de reunião virtual que tiveram o hábito de seu uso forçado para com o empresariado durante a pandemia.

HN: Eventos híbridos chegaram com força durante a pandemia e o complexo já possui estrutura para realizá-los. E as demandas? Como estão?

JN: Os eventos híbridos vieram sim para ficar, mas eles num segundo momento não irão substituir o mesmo número de pessoas que antes participavam de forma presencial. Estes serão ampliados ao número de público presencial que voltará ao que era, complementados por um grande número de participantes virtuais que antes não tinham condição de tempo ou financeira de estar fisicamente e poderão através deste novo hábito acompanhar pela internet. O desafio será o modelo de cobrança financeira para o digital, que tem a grande vantagem de permitir ao participante ver o que quer e quando quer. Eu, por exemplo, raramente vejo uma live no horário em que ela é transmitida, mas deixo para assistir quando me é conveniente.

HN: Com tantos cancelamentos este ano, existe muita expectativa para o setor em 2021. Como você acredita que será esse período?

JN: Que bom que estamos todos otimistas. Também quero acreditar que 2021 será um bom ano. Efetivamente, eventos de negócios presenciais são essenciais para motivar equipes e clientes, passar conhecimento, etc, de uma forma que o virtual não consegue. Assim, acredito que tão logo consigamos aceitar viver com os protocolos, que será um grande aprendizado desta pandemia. Se já tivéssemos tais hábitos não teria sido necessário fechar atividades, e com o devido uso eles protegem suficientemente para levar uma vida quase normal, afinal tivemos pequenos exemplos disto. No início da AIDS e subsequente hábito de uso de preservativos, e logo após o 11 de Setembro, com medidas de segurança que antes nos pareciam absurdas e invasivas. Ambos os casos fazem parte do nosso normal hoje em dia. Não acredito que esta pandemia seja a última que verei em minha vida, mas não acredito que as próximas terão o mesmo impacto econômico desta pelo hábito dos protocolos. Também sou positivo quanto a 2021 pela necessidade das pessoas de se encontrarem presencialmente, da importância que os eventos têm para os negócios, e pelo nosso aprendizado do uso adequado das novas medidas, além das vacinas. O Brasil estava começando a dar certo de novo, tínhamos expectativas de um excelente 2020 e acredito que o que está sendo feito na área de infraestrutura no país, além de nos tornarmos mais competitivos trará muito investimento para estes grandes projetos. Isso ajudará na retomada da economia, especialmente se o dólar continuar alto. Vamos continuar trabalhando com todo entusiasmo, dentro das limitações que nos forem impostas.

(*) Crédito da foto: Arquivo pessoal