Três perguntas para - Alejandro Moreno_internaMoreno tem longo relacionamento com o mercado hoteleiro no Brasil

Diz o ditado popular que o Brasil não é para amadores. De fato, e aí pedindo licença para usar outro provérbio, dessa vez mais conhecido do anedotário futebolístico, tem coisas que só acontecem em Pindorama. Alejando Moreno, contudo, tirou quase tudo de letra e, após mais de 20 anos de ligação com o país, sabe como as coisas funcionam por aqui. Residindo novamente em São Paulo, após um período em Buenos Aires, o executivo mexicano acompanha de perto os movimentos da Wyndham Hotels & Resorts em solo tupiniquim.

Presidente e diretor geral da rede norte-americana para América Latina e Caribe, Moreno não titubeou ao ser convidado pelo Hotelier News para participar do Três perguntas para. Sabe que o momento é delicado e complexo para a hotelaria mundial e não quis deixar passar a oportunidade de transmitir ao mercado o olhar da Wyndham sobre a situação atual. Nada mais natural, afinal a empresa tem 224 hotéis de 15 marcas, em 24 países da região, onde também desenvolvia um plano de expansão com diferentes bandeiras.

“É muito difícil imaginar um cenário concreto ainda. Nunca vivemos uma situação como esta e de maneira tão agressiva em nossa indústria”, avalia Moreno, que ainda assim vê oportunidades. “Entendo que nosso setor vai amadurecer. As equipes estão aproveitando para se especializarem, conhecerem o novo, buscarem alternativas de retomadas e aprendendo a ser uma equipe polivalente, que vai adquirir conhecimentos multidisciplinares”, completa.

Três perguntas para: Alejandro Moreno

Hotelier News: A imprevisibilidade ainda é grande. Mesmo assim, grandes redes internacionais estão de olho em suas operações na China para tentar entender como será o pós-pandemia. O que a Wyndham já aprendeu sobre o que está acontecendo do outro lado do mundo? 

Alejandro Moreno: Nossa forte presença no mercado asiático nos permite ter esse aprendizado dentro da própria casa. Temos mais de 1,5 mil hotéis na China, dos quais 80% já voltaram a abrir e, em março, fecharam com média de 30% de ocupação. Os números para abril e maio são otimistas e esperamos crescimento. Sabemos que estes sinais de recuperação ainda são tímidos, porém positivos. Entendemos que, provavelmente, a recuperação vai se desenvolver lentamente.

Três perguntas para - Alejandro Moreno_capaPara o executivo, o momento é desafiador, mas pode trazer aprendizados 

HN: Ainda sobre pós-pandemia, o que nos aguarda depois que tudo isso passar? Haverá grandes mudanças no setor?

AM: É muito difícil imaginar um cenário concreto ainda. Nunca vivemos uma situação como esta e de maneira tão agressiva em nossa indústria. Acredito que estamos aprendendo uns com os outros e teremos que sentir a movimentação do mercado, mas com certeza haverá impactos, positivos e negativos, no setor. A pandemia paralisou o mundo e, no segmento turístico, não poderia ser diferente. 

Entendo que nosso setor vai amadurecer. As equipes estão aproveitando para se especializarem, conhecerem o novo, buscarem alternativas de retomadas e aprendendo a ser uma equipe polivalente, que vai adquirir conhecimentos multidisciplinares. Tudo isso pode, de maneira geral, vir a contribuir para um mercado mais profissionalizado e com visão de longo prazo.

Do ponto de vista do consumidor, haverá uma super valorização do seu momento de viagem. Hoje, as pessoas encontram-se resguardadas em seus lares, mas certamente revendo as memórias das últimas viagens, e, no tempo certo, voltarão a viajar e darão muito mais valor a este momento, tornando as experiências mais especiais, o que favoreça a indústria.

HN: Vendo os índices acionários mundo afora, o valor de mercado de muitas redes hoteleiras internacionais despencou. Você acredita que pode haver um movimento de consolidação no mercado? Acha que teremos grandes transações de compra e fusões no médio prazo?

AM: Estamos andando por uma área desconhecida para todos, em qualquer segmento. Não sabemos ainda o que vai acontecer nos próximos dias ou meses, e a variação será por regiões e países. Ou seja, cada um irá se recuperar em tempos e de maneiras diferentes. O cenário mundial atual é bastante propício para grandes transações corporativas, em qualquer setor, e talvez seja uma alternativa para alguns empresários. No entanto, seria prematuro ainda dizer se isso irá acontecer ou não. 

Quanto às empresas hoteleiras de capital aberto, que sofreram queda das ações logo que a pandemia foi instaurada, hoje, encontram um cenário diferente e otimista. Já no início de abril, algumas ações referentes à hotelaria, viagens e hospitalidade subiram e sabemos que há investidores esperançosos de que as restrições destinadas a coibir a disseminação do Covid-19 estejam funcionando e que estamos nos aproximando do retorno à normalidade. Apesar de trabalharmos com muita cautela e respeitando o momento, estamos muito otimistas de que em breve esse cenário fique apenas nas nossas lembranças e nos sirva como aprendizado.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/Wyndham Hotels & Resorts