Tatiana Vanvelzor

Sabemos que o impacto da tecnologia vem mudando o comportamento do consumidor e os modelos de negócios em todos os setores. O maior catalisador da mudança no setor de viagens é a expectativa definida por experiências não relacionadas a viagens. É possível identificar algumas forças interagindo no mercado quebrando paradigmas. Economias compartilhadas, sustentabilidade, personalização, entre muitos outros fatores que trazem disrupção e tornam mais difícil acompanhar a fluidez do mercado.
 
Um outro exemplo de disrupção na indústria de viagens está ligado a mudança de comportamento relacionado ao propósito de viajar. Tradicionalmente, a indústria vem trabalhando sua estratégia de distribuição com base em dois segmentos de viagens: corporativo e lazer.

Bleisure é um segmento novo
 
O propósito de viajar vem se fundindo entre viagens corporativas e viagens de lazer. Em 2016, nasceu o conceito de bleisure (business + leisure) consequência da entrada da geração millennial no mercado de trabalho. Essa geração começou a viajar a trabalho e trouxe um conceito para o mercado de viagens corporativas. Elas incluem experiências relacionadas ao lazer e bem-estar, gerando a necessidade de personalização e optimização das escolhas no espaço de viagens corporativas. 
 
A tendência de misturar viagens de negócios e lazer tem crescido desde então. Viagens de negócios se tornaram uma oportunidade de mini-férias, um benefício não convencional dos empregados que viajam pela empresa. De acordo com uma pesquisa recente da Booking.com, 30% dos funcionários dizem que aceitariam uma posição de menor remuneração se garantissem que poderiam viajar mais a negócios.
 
Existem vários fatores que impulsionam essa tendência. Podemos ver uma mudança na cultura corporativa e um movimento em direção a mais flexibilidade e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Com mais empresas oferecendo horários flexíveis e acordos de trabalho remotos, não é surpresa que as viagens de negócios caminhem na mesma direção. A Forbes relatou recentemente que 57% das empresas, agora, têm uma política para os funcionários estenderem uma viagem de negócios para o período de férias. A tendência é que a "bleisure" se torne cada vez mais aceita pelas empresas ampliando ainda mais a oportunidade de uma nova demanda que vem crescendo e ganhando força.
 
Um novo estudo do Expedia Group Media Solutions (realizado pela Luth Research em 2018) mostra que cerca de 60% dos viajantes de negócios nos EUA, Reino Unido, na China, Alemanha e Índia estenderam viagens de negócios durante o último ano para fins de lazer. Uma das principais conclusões do estudo é que, com 60% das viagens de negócios converteram-se em bleisure e com os viajantes realizando mais de seis viagens de negócios por ano, "há uma oportunidade incrível de alcançar e atrair esse público valioso", afirmou a Expedia.
 
O setor de viagens é rico em dados, mas o insight é insatisfatório. Os avanços tecnológicos permitiram novas maneiras de vender e transformaram a forma como os produtos são vendidos aos clientes mas isso também gerou mais complexidade envolvida na expansão dos negócios. O maior desafio da indústria é a incapacidade de combinar dados, tecnologia e conteúdo personalizado. O mix de persona corporativa e persona de lazer sem o uso da tecnologia, torna inviável entregar ofertas e serviços personalizados. Empresas que tradicionalmente operavam no espaço de viagens corporativas precisam estudar como expandir suas ofertas no espaço de lazer.
 
À medida que as viagens corporativas e de lazer se tornam mais interligadas, o desafio das OTAs (agências de viagens on-line), que dominam a distribuição de lazer, é oferecer os dois tipos de viagens à mesma pessoa, especialmente quando viagens corporativas não são normalmente planejadas para acomodar viagens de lazer ou divididas entre a empresa e o viajante. Expedia e Booking já estão distribuindo conteúdo via GDS e a Ainbnb lançou recentemente uma plataforma para viagens corporativas. 
 
Esse cenário abre portas e oportunidades para canais tradicionalmente corporativos e seus fornecedores como a hotelaria para criar ofertas e produtos que capturem esse público. Existe uma oportunidade interessante para a indústria de viagens e turismo tradicionalmente corporativa de reter esses viajantes depois de terem concluído a parte comercial de sua viagem, seja por meio de pacotes de lazer pós-estada ou um desconto exclusivo para pessoas que participam de uma determinada conferência. Os hotéis precisam estabelecer estratatégias de como atrair esses viajantes para que fiquem em seu hotel para a parte “divertida” de sua viagem. 
 
O uso da tecnologia para executar uma estratégia de distribuição guiada por tendência e inteligência de mercado coloca o hoteleiro ao alcance dessas oportunidades.

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Tatiana Vanvelzor é formada em Turismo pela Anhembi Morumbi, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV, com mais de 20 anos de experiencia internacional em Hotelaria e Distribuição Eletrônica. Diretora Regional de Contas da América Latina e Caribe para a Sabre Hospitality Solutions, ela é responsável pela equipe que gerencia todas as propriedades ativas na região. 

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