Com colaboração de Márcio Morais, da QI Profissional

Editorial(imagem: icmc-usp.blogspot.com)

Um dos cargos de maior importância para o setor hoteleiro, o recepcionista parece ainda não ter caído no gosto de ambições dos que trabalham no segmento. O salário, notadamente, aparece como impeditivo na hora de encontrar profissionais capacitados e ávidos por exercer tal função – haja vista a defasagem escancarada das remunerações.

O piso mensal para um recepcionista, por falar em descompasso, é um pouco maior do que um salário mínimo. É um valor baixo, há de se convir, e algumas contradições reverberam de tal contexto.

Mesmo tendo ciência do baixo estímulo financeiro oferecido a esses profissionais, os gestores se veem numa ambivalência para aumentar os salários. De um lado, a medida impactaria diretamente nos custos do empreendimento – já que, quanto maior a folha de pagamento, maiores serão as despesas e, com isso, a receita ficará comprometida.

Em todo caso, a via de mão dupla segue, já que os administradores deixam de considerar que funcionários qualificados e bem remunerados tendem a diminuir o outro extremo: os custos.

Se bem treinado e satisfeito com sua atuação, o profissional exerce suas obrigações de forma mais produtiva, evitando desperdícios – de produtos e de tempo – e, com isso, ampliando a receita.

No mais, uma equipe afinada atende a premissa básica do setor: a hospitalidade. Qual hóspede não deseja ser bem atendido e retornar àquele hotel? Ele quer ser fidelizado, bem tratado e, de preferência, pelo mesmo profissional. O mercado hoteleiro, no entanto, opta em grande parte dos casos por contrariar esta métrica.

Não se deve deixar de lado a premissa de que o lucro se faz com a distância entre custos e receitas, matemática fácil de assimilar.

E a labuta não se encerra aí. Impeditivo velado – mas constante – é o alto índice de turnover. Um funcionário muda de empresa por conta de R$ 50? Sim, muda. Quantos pães e leites podem ser comprados com essa quantia por uma família de renda mínima? É um ponto inegável e, na maior parte dos casos, negligenciado. Neste contexto, a hotelaria acaba perdendo competitividade com outras indústrias, que aceitam de bom grado e com melhor remuneração os colaboradores do mercado hoteleiro.

Completa o rol de percalços a necessidade de trabalhar aos finais de semana, o famoso 6 x 1. Muitos profissionais, ao terem esta noção sobre a hotelaria, elevam as expectativas quanto aos salários – o que não passa de anedota em maior parte dos casos.

O famoso plano de carreira, pouco comum nesta indústria, também faz verão escaldante quanto aos problemas. O profissional qualificado exige um bom ambiente de trabalho, plano de carreira, programas de qualificação, gestores que servem de referência. Porém, mais do que promessa, tais diretrizes têm que ser mostradas no histórico da empresa. Se não houve dentro do grupo exemplos de pessoas que cresceram e desenvolveram-se para patamares mais altos, o discurso não procede. São situações que, ao serem postas à mesa, fazem com que o profissional rapidamente se rearticule e corra atrás de uma recolocação.

Ou seja, a hotelaria perde em competitividade para muitas outras indústrias – e aparentemente por comportamentos retrógrados, drasticamente cultivados. É uma constatação pouco animadora, que precisa figurar na agenda do setor caso os hotéis não queiram perder seu maior trunfo: o humano.