Netto Moreira
Netto voltou ao Brasil em 2012, após períodos nos EUA e Canadá

Conhecemos Netto Moreira há mais de 10 anos. Em 2009, o executivo, que hoje comanda o primeiro Fairmont da América do Sul, vivia em Montreal, no Canadá. Naquela época o Hotelier News tinha uma correspondente no país, a eficiente jornalista Chris Kokubo, que hoje vive nos Estados Unidos. Foi ela quem entrevistou Moreira pela primeira vez. À ocasião, o brasileiro era guest relations do Sofitel Montréal. Alguns meses depois, ele passaria a comandar o departamento de Alimentos & Bebidas (A&B) do luxuoso hotel.

E foi em 2019 que Moreira recebeu o bastão para literalmente comandar o Fairmont Rio de Janeiro Copacabana. O empreendimento, que operou por muitos anos como Sofitel Copacabana, foi fechado para passar por uma reforma multimilionária, retornando em grande estilo no dia 5 de agosto do ano passado.

Moreira trabalhava no hotel desde 2012, quando retornou ao Brasil depois de uma longa temporada no exterior. Em 1999, embarcou para a França para estudar hotelaria. Fez estágio em Nova York e, depois de pegar o diploma e ter um período na Big Apple, fixou residência no Canadá, virando cidadão daquele país.

Para voltar ao Brasil, o executivo admite que deu um passo para trás na carreira. Começou como gerente de Recepção do Sofitel Copacabana. Aos poucos foi crescendo, assumiu o cargo de gerente de Hospedagem e depois passou à gerência Operacional. Em setembro de 2017, assumiu como gerente de Hotel do Sofitel Ipanema, que agora passa também por uma renovação. Finalmente, em outubro de 2018, foi anunciado como gerente geral do Fairmont Copacabana.

Até a abertura do novo cinco estrelas carioca, Netto acompanhou os processos da reforma, o treinamento dos colaboradores e de todos detalhes ligados à abertura, desde itens de decoração até o que é servido nos espaços gastronômicos do hotel. E foi ele quem comandou a transferência dos hóspedes de Ipanema para Copacabana, tudo no mesmo dia.

A reportagem do Hotelier News foi conhecer o Fairmont Rio de Janeiro para a produção de um In Loco Especial há cerca de um mês. Foi quando também aproveitamos para bater um papo com o executivo. Leia a seguir:

Netto Moreira
Para o executivo, é um privilégio incrível abrir o Fairmont Copacabana

Hotelier News: Como você se sentiu quando teu nome foi confirmado como gerente geral do primeiro Fairmont da América do Sul?
Netto Moreira: Pra mim foi um privilégio incrível, já morei oito anos no Canadá e adquiri a cidadania canadense. Morei um tempo na França, trabalhando em um grupo hoteleiro francês. Quando a Accor adquiriu o Fairmont, foi uma felicidade muito grande, a marca é um orgulho do canadense, que tem admiração muito grande pela rede. Participar do processo de abertura do hotel, portanto, foi uma honra muito grande, como canadense e como brasileiro.

Hotelier News: Relembrando tua carreira, como foi a experiência no exterior e, principalmente, no Canadá?
Netto Moreira: Fui para Montreal no final de 2004, trabalhar no Sofitel Montreal. Antes, atuei em Nova York como guest relations do Sofitel Nova York. Lá foi uma grande escola, porque passei também pelo A&B, por banquetes, restaurante e bar. Já em Montreal, atuei tanto na área administrativa, quanto nos setores operacionais. Fui assistente do gerente geral, trabalhei também em Vendas e fui gerente de Grupos e Eventos. Foi realmente uma escola e aprendi muito com o diretor de área, Jean-Christophe Gras. Sai de Montreal como diretor de A&B.

Sou muito grato a Accor e, desde essa época, não me via trabalhando em outra empresa. É uma cadeia hoteleira que tem muita preocupação com o bem-estar e com plano de carreira de desenvolvimento de seus colaboradores. Ela permite a qualquer um que tem ambição, motivação e perseverança de evoluir e crescer. Foi o que ocorreu comigo: entrei como estagiário no Sofitel Nova York, onde fiz meu primeiro estágio durante meus estudos na França. Voltei para terminar meus estudos e, depois, retornei a Nova York já como efetivo.

Netto Moreira
O ano de 2016 foi excepcional para o Sofitel Copacabana, relembra Netto

Hotelier NewsComo foi a volta para o Brasil?
Netto Moreira: Voltei ao Brasil em 2012, diretamente para o Sofitel Copacabana. Entrei como gerente de Recepção. Na gerência regional estava o Philippe Seigle, que cuidava também do Caesar Park By Sofitel (antigo Sofitel Ipanema), Mgallery Santa Teresa e Mama Shelter. Morávamos nós dois no hotel. Trabalhamos juntos durante cinco anos e posso dizer que ele me ajudou muito. Foi certamente um dos meus maiores mentores na carreira.

Depois, tivemos Copa do Mundo, foi um grande desafio preparar a equipe para receber esse grande evento. Logo na sequência, dois anos depois, tivemos os Jogos Olímpicos, do qual participei como membro do comitê organizador representando o mercado da hotelaria. A um ano da competição, fazíamos reuniões mensais, que envolviam o comitê organizador e os representantes de cada setor da economia, para discutir a logística da Rio2016. No nosso caso, desenhamos quais ruas que deveriam ficar fechadas, os horários para atendimento da padaria, o supermercado que nos abasteceria durante a noite, a entrada e saída do que ía para a lavanderia… enfim, há um programa de logística para executar isso tudo e foi bem interessante participar.

Nessa época, já tínhamos feito a primeira fase de reforma do Sofitel Copacabana, quando melhoramos o produto para os Jogos Olímpicos. O ano de 2016 foi excepcional, o mês da Olimpíada foi incrível. Passou o evento e começamos a sentir o efeito da crise. Logo na sequência começamos a programar o fechamento do hotel e passamos a trabalhar no projeto. Optamos por fechá-lo em maio de 2017. Acabei morando por lá até novembro, sozinho, não tinha mais ninguém no prédio, nem mesmo o Philippe, que se mudou para São Paulo e vinha durante a semana. Fui a única pessoa no edifício por cinco meses.

Netto Moreira
Um dos pilares da Fairmont é conectar hotel, destino, hóspede e colaborador

HN: Como foi a transição entre fechar um hotel e iniciar outro no mesmo dia?
NM: Em novembro de 2017, assumi o Sofitel Ipanema e lá fiquei até o fechamento, em 5 de agosto de 2019, quando começou a operação no Fairmont. Nunca tinha visto isso na vida: fechar um hotel de luxo ao mesmo tempo em que se abria outro, no mesmo dia, com a mesma equipe e, para completar, transferindo 110 hóspedes. Era check-out em uma unidade, check-in em outra.

Obviamente, os clientes foram avisados com antecedência. Um casal francês em lua de mel foi o primeiro a chegar no Fairmont. Foram recebidos com tapete vermelho e ganharam um up grade para uma linda suíte. Foram dias empolgantes, toda equipe muito animada em fazer essa transição. O maior desafio foi justamente a troca de DNA das marcas. Claro que a equipe do Fairmont é muito maior. Hoje, somos 450 colaboradores para 375 apartamentos e, no Sofitel Ipanema tínhamos 250 colaboradores.

HNComo foi o processo de implantação do Fairmont?
NM: Um dos pilares da Fairmont é conectar o hotel com destino e o hóspede com nosso colaborador. No primeiro caso, passamos essa mensagem para a arquiteta, que tinha que trazer o Rio e Copacabana para dentro da propriedade. Esses três pilares – cidade, hotel e clientes – foram importantíssimos para os chefes de departamentos desenharem as diferentes experiências que ofertaríamos.

Fizemos várias reuniões para desenhar tudo isso. Música, entretenimento, diferentes formatos e conceitos de alimentos e bebidas… tudo isso nasceu dessas conversas e foi muito importante para poder criar essas conexões genuínas, que era o que buscávamos. Nosso objetivo é transformar momentos em memórias para os hóspedes. Ele quer uma experiência, uma conexão emocional para transformar aquele momento em uma memória.

Netto Moreira
Netto diz que busca o oposto da robotização atual da hotelaria de luxo

HNE quanto aos colaboradores, como foi esse processo?
NM: Para tudo que estamos vendo acontecer, o momento do recrutamento, da seleção e do treinamento foi muito importante para esse “novo olhar da hotelaria’’ que desejávamos implementar.

Digo isso porque, hoje, há tanta robotização na hotelaria de luxo e buscávamos justamente o oposto: criar relações humanas genuínas entre o hóspede e o colaborador. Por isso, desde o começo, falava para cada pessoa da equipe ser ela mesma. “Se vocês foram selecionados pelo chefes, diretores e estão fazendo parte da equipe, vocês têm o que mais precisamos: a elegância natural, essa benevolência e generosidade de compartilhar. Quero que vocês preservem isso e sejam vocês mesmos”, repetia para eles. É claro que, temos padrões elevadíssimos, mas não queria que isso se tornasse uma barreira a ponto de não deixar o hóspede interagir com o colaborador.

Tem que ser tudo elegante naturalmente. Por exemplo: eles precisam conhecer bem a cidade para dar informações sobre ela. Levamos muitos colaboradores para conhecer o Rio, visitar os monumentos da cidade e os pontos turísticos, para que eles tenham embasamento para contar com orgulho o que há por aqui. Há uma linha tênue entre dar um tapinha nas costas e ser ao mesmo tempo falar sobre a cidade etc. Levamos eles para o Pão de Açúcar, Corcovado e Forte de Copacabana. Também levamos a equipe de A&B para conhecer diferentes restaurantes, para ver o serviço e permitir que eles se colocassem no lugar dos clientes. Então, toda essa transição foi marcante, seja na contratação dos novos colaboradores, no investimento em formá-los e treiná-los para esse olhar novo de hotelaria, bem como trazer a equipe do Sofitel Ipanema para uma nova realidade, um novo DNA.

Todo esse processo de contratação e abertura começou em novembro de 2018, com o hotel abrindo menos de um ano depois, em 5 de agosto. Em novembro, por exemplo, eu já havia começado. O Michael Nagy (diretor de Vendas e Marketing) começou um mês depois e Guilherme Meyhofer, nosso gerente de Operações, em janeiro.

Construímos a equipe a partir do início de 2019, fechando inicialmente o comitê estratégico, que era toda do Sofitel. A equipe de base foi contratada um ou dois meses antes da abertura, para fazer os treinamentos, treinaram no Fairmont e praticaram em Ipanema.

Todos embarcaram nessa viagem da transição, sem resistência, com muita empolgação. Vale destacar o apoio que tivemos da sede da Accor, em Paris, e da Fairmont, em Toronto, além do escritório de São Paulo, além do escritório de São Paulo e também todas as equipes da empresa proprietária, AccorInvest, que nos apoiaram desde sempre e até hoje.

Fiz também uma viagem de imersão para conhecer 11 hotéis Fairmont em sete dias. Foi uma maratona que passou por Québec, Vancouver Calgary, Lake Louise,  Montreal e Toronto, sede da rede e onde fiquei mais tempo. Foi muito interessante essa experiência, pois encontrei outros gerentes gerais da marca, suas equipes e puder entender a essência do produto para trazer essa experiência para o Brasil.

Netto Moreira
Netto: Fairmont acertou na escolha do Rio para estreia da marca na região

HNPor que a Fairmont escolheu o Rio de Janeiro para fazer sua estreia na América do Sul?
NM: Na minha opinião, a escolha pelo Rio de Janeiro não poderia ser mais acertada para fazer a estreia da Fairmont na América do Sul. No projeto de desenvolvimento da Accor, que tem 39 marcas diferentes no portfólio, havia uma oportunidade perfeita para ter essa bandeira de luxo por aqui. O Rio de Janeiro é um destino que tem vocação para se tornar ainda mais luxuoso e ainda teremos o Sofitel Ipanema, que reabre em 2021, para reforçar nossa presença na cidade. Mais ainda, o Rio é a grande vitrine do país, é o sonho dos estrangeiros e também dos brasileiros.

A decisão pela marca Fairmont, aconteceu em 2016, quando a marca foi adquirida pela Accor. A rede canadense sempre teve uma preferência por hotéis com potencial voltado para congressos e eventos. A nossa propriedade tem um centro de convenções com dois mil metros quadrados, 13 salas de reuniões. O salão principal acomoda 900 pessoas, então é um empreendimento que tem uma segmentação voltada pra esse público, sendo o maior centro de convenções da Zonal Sul carioca. Então, um dos nossos objetivos mais claros é posicionar o hotel no segmento Mice e trazer grandes congressos para o Rio de Janeiro e para cá.

HNVocê já fazia um trabalho de divulgação com o público local no Sofitel Ipanema. Essa ação se aprimou no Faimont?
NM: Sim, também estamos abrindo as portas para os cariocas. O carioca quer estar aqui, adequamos os preços para que não seja um inibidor do restaurante e do bar, que seja competitivo e acessível. É por isso que o conceito do hotel foi realmente trazer o Rio de Janeiro para o hotel em todos os aspectos e isso passa muito pelo projeto arquitetônico, que foi inspirado no Rio dos anos 1950.

Hoje, 100% do mobiliário é nacional e designers brasileiros de renome internacional tem peças nas suítes e nas áreas comuns. Já a carta de bebidas foi desenvolvida e inspirada nos anos 1950, pelo Tai Barbin, um dos maiores mixologistas do Brasil. Ele nomeou cada coquetel com nome de um grande acontecimento dos anos 1950.

Em 2020, contudo, teremos uma carta nova, com novo conceito. Cinco mixologistas de diferentes unidades Fairmont no mundo foram selecionados. Fizeram três viagens para Nova York, Europa e Inglaterra para se encontrarem e desenvolver um menu com coquetéis clássicos reinventados para ser multiplicado em todos os 75 hotéis da rede no mundo.

(*) Crédito das fotos: Peter Kutuchian/Hotelier News