Márcio Moraes

Adianto que não será um texto machista, quanto ao bigode entenderão no decorrer do texto, já a barba entrou de companheira para compor o título e o contexto do artigo. 

Por mais popular que seja, ainda há muitos profissionais que desconhecem o Linkedin, suas particularidades e, principalmente, sua real missão. Artigos e blogs especializados na área falam dessa ferramenta como currículo, a multidão de conectados e de como ter um Linkedin nota 10, arrebatador! Essa ferramenta vai além de tudo que se fala e você tem o domínio de transformá-lo no seu site de relacionamento. Poucos falam da utilização de outra faceta do Linkedin – a projeção da sua imagem no mercado de trabalho. 

Para citar como exemplo, infelizmente ainda é comum a utilização de foto de perfil registrada num cenário inadequado, selfies em frente ao espelho ou fotos recortadas no meio de um grupo de pessoas, aparecendo metades de braços, mãos, rostos e cabelos dos colegas. Profissionais despreocupados com a imagem e, ao mesmo tempo, afoitos por uma recolocação, essa ausência de olhar para si é que faz milhões de perfis parecidos, sem destaque para os recrutadores. 

A foto é considerada desnecessária nos currículos tradicionais, agora chamados de off-line. Por muito tempo, pesou sobre essa exposição as inúmeras formas de interpretação. A ausência da foto no currículo preserva a aparência pessoal longe de qualquer julgamento. Em defesa ao meu argumento, quando ainda líder setorial, ouvi de gestores debruçados sobre currículos com fotos, sem ao menos ler o histórico, que esse ou aquele não atendia os requisitos de “aparência” para uma Recepção ou ainda, “esta é muito bonita, vamos contratar”, isso sim é uma visão machista. 

Lembro de um gerente geral que não contratava pessoas com bigode, intrigado perguntei o motivo e ouvi “meu padrasto tinha bigode e sofri muito nas mãos dele”. Essa comparação com parentes, amigos e antigos profissionais, infelizmente ainda acontece, mesmo numa pequena parcela, para esses casos o candidato depende da sorte do dito semelhante ter tido uma experiência positiva com o recrutador.  Obviamente, condeno esse tipo avaliação. Também me questiono se valeria a pena trabalhar com gestores preconceituosos, já que essa manifestação um dia virá, quem sabe a exclusão no inicio de processo de seleção abrevie esse futuro sofrimento, porém cabe a nós sempre dialogarmos contra o preconceito, na esperança pela lucidez.  

Há casos em que esse tipo de preconceito apareça na primeira etapa do processo, na análise do currículo, dirigido por analistas e assistentes. O gestor direto da pasta não compartilha da mesma absurda interpretação. Por esse motivo, valorizo muito os profissionais que se dispam de suas crenças e observações pessoais e conseguem visualizar o profissional tão somente pelo seu diferencial na execução do cargo e função, para tal utilizam ferramentas e/ou metodologias comprovadamente testadas em que a subjetividade não tem vez. 

Porém, no Linkedin, a utilização de foto do profissional faz parte da ferramenta e não colocá-la pode significar um prejuízo, visto como perfil incompleto. Teremos que contar com o “não preconceito”. De qualquer forma, segue a dica, as fotos devem transmitir a mensagem do profissional de acordo com o cargo e função pretendida.  Por exemplo, não há necessidade de um Gerente de Lazer utilizar terno, assim como um Diretor de empresas, que valorizam a formalidade, utilizar foto em momento de completa descontração, com traje esportivo. Sempre haverá exceções, por isso é importante cada um tomar para si a responsabilidade de transmitir sua imagem. 

O cuidado com o conteúdo é outro fator importantíssimo, vamos além da necessidade de usar adequadamente a língua portuguesa. O texto inicial, chamado de resumo, compreendo como “apresentar as qualificações”, é composto pelas atuais competências e focado no objetivo da carreira. Dessa forma, para um Gerente de Hospedagem a habilidade em check-in e check-out, perde a importância para fatos mais complexos. Isso acontece muito com currículos que são atualizados anualmente. O profissional com um ano de experiência em Gerência terá somente uma linha atualizada e o texto restante estará direcionado à época de coordenação, chefia e base operacional. 

Com novo cargo, nova experiência acrescenta-se competências diferentes, perdemos habilidades básicas ou pelo menos a agilidade. Apaga-se tudo e apresenta ao mercado suas atuais e reais competências. Se não tem interesse de voltar a base operacional por que falar dessas competências? O Olhar é para o presente e futuro. Basta fazer um teste, coloque um Gerente de Hospedagem para fazer a arrumação de apartamento, mesmo tendo passado pela governança, muitos não tem a agilidade e padrão de qualidade da camareira. Na aquisição de novas competências gerenciais damos adeus a muitas habilidades valorizadas na execução operacional. 

O histórico profissional vem logo na sequência. Será pertinente dizer ao mercado como foi a sua passagem pelas empresas, por meio dos resultados conquistados no departamento ou do empreendimento. Ora, se teve aumento de ocupação, também se deve a contribuição do Gerente de Alimentos & Bebidas em melhorar as estruturas gastronômicas e servir como exposição voluntária dessas qualidades nos vários canais de comunicação com o mercado consumidor.  Se o perfil apresentou as competências no “Resumo” não precisa repeti-las nas experiências. A leitura do “resumo” compreende-se como guarda-chuva dando base aos resultados. Assim, não há repetições de citações de competências no decorrer do histórico profissional. Ao mesmo tempo, destacar resultados mostrará que a passagem pelas empresas não foi em vão e muito menos um replay da experiência anterior.   

Essa repetição de competências em diversos momentos da carreira do profissional torna a leitura do currículo cansativa e a projeção de imagem do profissional limitada e engessada. Tenho visto muitos currículos aquém das verdadeiras competências do profissional. Há também profissionais com qualidades vistas por ele como parte da rotina, consideradas em sua avaliação como comuns. O mercado de trabalho pode ter uma percepção diferente, justamente essas podem servir como diferencial e oferecer aos recrutadores aquele sentimento de “água na boca” – “preciso que esse profissional faça o mesmo na minha empresa”. 

Chegamos a formação acadêmica, como há pessoas que dão pouca importância para esse momento de grande aprendizado! Colocam somente a instituição de ensino, titulação e nome do curso. Nada de grade curricular e projetos acadêmicos realizados. Há vários tipos de cursos de graduação em Turismo, Hotelaria, Administração, com conceitos, metodologias e disciplinas diferentes, apresentá-las significa mostrar, novamente, ao mercado quão diferente esse profissional é da multidão que procura emprego. Uma dica: destaque as disciplinas alinhadas com o seu objetivo de carreira.  Por exemplo, se não tem interesse de projetar a imagem de profissional altamente qualificado na área financeira, não apresente as disciplinas diretamente relacionadas a essa competência e traga a tona as demais, aquelas com possibilidade de estender o tapete para justificar suas conquistas. Da mesma forma para aqueles sem interesse em Vendas, Comercial e Marketing, não há necessidade de coloca-las em exposição. Veja, que tudo serve como comprovação para os resultados apresentados pelo profissional, esse é o ponto essencial. 

A melhor projeção no mercado é o profissional realizar conquistas para a empresa e apresentar as competências adquiridas para avalizá-las. Se encontrar vários currículos iguais ao seu, acenda a luz amarela, é a projeção de profissional sem diferencial.  É melhor “colocar as barbas de molho” que a espera será grande.

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Márcio Moraes é gerente de Carreira na QI Profissional, especializada no mercado de hospitalidade. Professor Universitário. Formado em Hotelaria,  especialista em Qualidade e Produtividade, Planejamento e Marketing, formação avançada em DISC (ferramenta de análise de competências comportamentais).

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