Julio Gavinho

Quando eu comecei o projeto do Zii Hotel em 2010, recebi uma série de perguntas travestidas de críticas amigáveis: “mas, mesa coletiva no lobby?”; “não tem piano bar no lobby?”; “para que tanta tomada no lobby?”; “o lobby é colorido, né? O hotel é para gays?” e a melhor de todas, “reserva e check-in por aplicativo? Esse hotel por acaso tem manual de instruções?”. Perguntas definitivas para mim, há quase 10 anos atrás. Pensei que, ou estava destruindo valor em uma plataforma de bom tamanho desenvolvida para hóspedes que não se identificavam com ela, ou realmente estava agindo como estopim de uma revolução disruptiva. Bem… e não queria nem uma nem outra. Queria apenas levar a experiencia do seu estilo de vida para a sua morada temporária, queria oferecer “uma nova geração de hotéis para uma nova geração de brasileiros”. Algo que hoje é feito com maestria pela ACCOR com os seus Ibis Styles e os temas e sabores locais.

Eu queria um estilo de hotel novo, revolucionário e moderno para os millenials, que resistisse ao tempo e a idade dos hóspedes. Um produto que embora contemporâneo das gerações X e Y, estava mirando mesmo para os pequenos Z’s. Busquei mão de obra local, com sotaque e características de cada cidade aonde colocássemos nossas impressões. Cupuaçu, dendê, farinha d’água, tutu à mineira, tucunaré, pão na chapa e biscoito Globo eram os protagonistas de uma nova experiencia. Sim, uma experiencia! Dormir, ver TV e usar o banheiro não eram mais as necessidades dos nossos hóspedes. Nossos jovens hóspedes queriam mais. Mais internet, mais espaços comuns de alimentação, trabalho e convivência. As suas cores e tendências refletidas na hospedagem. O design da sua geração em um hotel. O estilo da sua vida. Um hotel que fosse algo próximo de levar a sua vida para o local aonde se vai viver por uns dias. Interessante. Carregar o seu estilo de vida por aí. Coisa mudérna!

Veja bem: A expressão “lifestyle” certamente vem de “style of life”; uma definição de cerca de 100 anos de idade cunhada pelo psicólogo austríaco Alfred Adler como um guia, um mapa das escolhas de vida feitas pelo indivíduo e, claro, o caminho que o levaria até atingir estas escolhas. Ao conjunto de escolhas vitae e o caminho que tomamos na direção do que nos agrada, convencionamos chamar de lifestyle. Ele nem sabia, mas estava revolucionando a hotelaria nos estertores do século XX.

Quando oferecemos o pouso ideal para o seu lifestyle, criamos uma conexão inquebrável entre o hotel e o hóspede, entre o restaurante e o comensal, entre o patinete e a sua vida. A atual tendência no-car inclusive tem muito mais a ver com uma opção de vida (lifestyle) do que com transporte. Morar em um apartamento minúsculo alugado, porém perto do trabalho tem muito mais a ver com uso do tempo e recursos de sua vida (lifestyle) do que com a propriedade do Real Estate. O amanhecer de uma nova era. Estou me sentindo meio Bernard Marx, descortinando o “Brave new world” de Aldous Huxley.

Pensar e planejar um hotel lifestyle exige criteriosa observação do cliente que se quer ter, em oposição ao cliente que se tem ou aquele que está por aí, indeciso por sua compra. É preciso entender as escolhas feitas pelo seu target, bem como o caminho que ele vai percorrer. Conhecendo este mapa, você poderá colocar na trilha do seu possível hóspede as suas migalhas, suas iscas, seu barbante, sua guia de produtos que o levarão até o meio dos seus braços. Olhando atentamente para os sinais, você colocará em seu caminho a exata dimensão de “pouso” para a sua vida. O espaço que cabe na sua experiência; a viagem que cabe na sua expectativa; o hotel que tem o style of your life… o hotel que tem o seu lifestyle; o seu match perfeito.

Match? Ops… acho que isso já é outro assunto.

Ou não!

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Julio Gavinho é diretor na Lyon Capital Investimentos Imobiliários; professor do curso de MBA em hotelaria de luxo e do curso de MBA em arquitetura de luxo da Faculdade Roberto Miranda.