Heber Garrido
Heber Garrido, diretor do grupo THG e do Transamérica Ilha de Comandatuba
(fotos: Filip Calixto)

O executivo Heber Garrido, 49 anos, mudou de rumo algumas vezes na vida e na carreira. Veio de Itajubá – cidade localizada no Sul de Minas Gerais e local de sua primeira formação, em Comunicação Social – para o interior de São Paulo, depois para a capital paulista, e assim alcançou projeção nacional em funções relacionadas à área de Marketing. Atuou no mercado de resorts quando o segmento ainda era incipiente no País, e protagonizou algumas incursões dentro do metier que sonhara quando adolescente – o ramo de Eventos. Voltando à hotelaria, assumiu a diretoria do grupo THG (Transamérica Hospitality Group) – braço hoteleiro do conglomerado financeiro Alfa – e do Transamérica Ilha de Comandatuba, na Bahia. Mudou também suas raízes e hoje chama a terra da garoa de casa, deixando parte da sua família que ainda mora no interior do Estado, em São José dos Campos.

Aparentemente aplicado no trabalho, hoje ele alega ter tempo para si. Admirador de bicicletas, nutre simpatia pelo golfe, esporte que diz ser bom para as reflexões e para os negócios. Ao menos três vezes por semana, toda semana, faz seus treinos e exercícios. Casado, frisa prezar pela qualidade de vida em suas escolhas. Para além do trabalho, o que mais o empolga em seu discurso é o convívio familiar numa casa cheia: são quatro filhos. Não é difícil notar, há algo de novo em Garrido.

Sem perder de vista o objetivo principal de levar o grupo THG ao topo da cadeia alimentar hoteleira atuante no Brasil – hoje a empresa reúne 20 meios de hospedagem em diferentes regiões do País -, ele parece bem orientado também no desenvolvimento pessoal, falando, entre outras coisas, sobre dar valor aos pequenos prazeres da existência. "Acredito muito naquela história de mente sã e corpo sadio", justifica, assim, seu tempo irrevogável para exercícios.

"É um horário só meu e que, inclusive, acho muito melhor para a cabeça do que para o corpo. Ter uma hora em que você consegue fazer quase que uma análise sua é fantástico, ajuda demais", comenta. Até o final do ano, o grupo Transamérica deve inaugurar mais duas unidades, e as articulações internas dão conta de que até o encerramento de 2014 mais 13 sejam incorporadas. Assim, a companhia quase dobra o número de unidades administradas e distribuídas entre as seis marcas mantidas. "O desafio é crescer inovando. Sobretudo atentos ao ponto de vista do usuário de hotel. Este é o grande desafio", define.

Fã de estratégias de marketing e das inúmeras ferramentas de comunicação, Heber afirma que toda experiência profissional bem sucedida é consequência do apreço pela atividade desenvolvida. Não satisfeito, vai além e argumenta: "Ter paixão por aquilo que a gente faz contamina. Gosto muito do que faço e numa posição de liderança acredito que inspirar pessoas é fundamental".

Por Filip Calixto

Heber Garrido
"Ter paixão por aquilo que a gente faz contamina"

Ingresso acidental – passando de cliente a parte do setor
"Com 16 para 17 anos – o que já faz um certo tempo – montei uma empresa de eventos corporativos. Nesse período atuava na região do Vale do Paraíba, em São José dos Campos (SP), e realizava muitas das minhas convenções em espaços de hotéis. Depois de seis anos com essa empresa recebi um convite para entrar para a rede de hotelaria Eldorado, que cuidava de uma unidade na cidade, e aceitei.

Conhecia o mercado como cliente mas com este movimento passei para o outro lado. Não fiz uma carreira com foco em hotelaria; ela acabou ocorrendo ao acaso, em função de um convite de alguém que conheci como cliente. Do Eldorado de São José procurei uma oportunidade em São Paulo e consegui, vim trabalhar na unidade da rede na capital. Esse foi meu caminho de início, de começo de carreira para entrar na hotelaria."

Vocação
"Sempre me imaginei no mercado de eventos, até por gostar muito da dinâmica, da complexidade, do fator de inovação constante. Com 16 anos já trabalhava nesta área e até hoje ainda me relaciono com esta atividade, mas agora com mais recursos, coisas que não possuía quando comecei.

Pensando no que faço hoje, acho que ter essa bagagem de eventos foi fundamental, foi daí que surgiu minha paixão por hotelaria e por marketing, mercados nos quais estou inserido hoje."

Trajetória
"Depois da Eldorado, passagem que durou sete anos, fui trabalhar com o grupo Serson, que também era uma rede de hotéis corporativos e de lá já entrei no mundo dos resorts. À época recebi um convite do Praia do Forte EcoResort, antes dele ser Tivoli.

Era um empreendimento precursor em algumas questões ambientais e muito voltado ao mercado exterior por ter sido, em algum momento, administrado por executivos alemães.

Heber Garrido
Executivo coleciona passagens por redes brasileiras

Avalio como uma boa entrada para o segmento de resorts. Do Praia do Forte fui para a Blue Tree, empresa na qual ingressei numa fase de implantação da bandeira Park na rede e num excelente momento do setor de resorts. Nesse momento consegui uma excelente oportunidade no Transamérica, para atuar somente na unidade de Comandatuba.

Em 2003 eu saí para assumir um projeto junto ao Guilherme Paulus, que era de criar um braço de eventos da CVC. Tive aí uma fase de muitas lições. Foi um período em que aprendi muito o que fazer e o que não fazer, contudo a CVC estava num momento de franca expansão e em função disso o projeto acabou não sendo o que gostaríamos, dessa forma optamos por não continuar. Nesse momento voltei para a hotelaria com resorts e hotéis corporativos junto com a rede Bourbon.

Pouco depois já estava de volta à Transamérica, dessa vez para o THG (Transamérica Hospitality Group), em hotéis administrados pela rede. Retornei para uma diretoria geral compartilhada junto com o Paulo Bertero."

Casa
"Minha primeira experiência com Transamérica foi a diretoria de Marketing e Vendas exclusiva do Transamérica Ilha de Comandatuba. Nessa ocasião, já foi possível perceber que o grupo e o conglomerado do qual ele faz parte, tem o DNA de empresas financeiras. Ou seja, é uma empresa que tem uma maneira própria de tratar os colaboradores, com políticas internas de incentivo exclusivas e filosofias muito consistentes, o que acaba sendo motivo para admiração.

Eu, por exemplo sou um grande fã dessa maneira de trabalhar, tanto é que saí e voltei a atuar no grupo. De fato a gente tem uma forma de trabalhar muito positiva no que toca ao reconhecimento de talentos e à concessão de oportunidades. Nessa minha volta recebi um convite do doutor Aloísio Faria – um dos grandes acionistas do grupo Alfa – no sentido de retomar o projeto de expansão da rede; para isto a gente reposicionou o produto.

Nesse período a companhia era chamada de Transamérica Flats, e a missão começou com um movimento de transformação que resultou na criação da administradora Transamérica Hospitality Group. Com essa manobra colocamos a empresa numa outra plataforma com mais amplitude e mais compatível com o que o mercado vem fazendo.

Heber Garrido
Profissional auxiliou no processo de reposicionamento do THG

Pouco depois, após um outro contato também assumi a direção do resort de Comandatuba, acumulando assim as duas funções. Atualmente sou diretor do THG numa diretoria formada por duas pessoas – Paulo Bertero e eu – e diretor de Marketing e Vendas do Transamérica Ilha de Comandatuba. Nessas funções as incumbências são deliberar, desde estratégias para convenções até ter ideias para novos empreendimentos. Durante as semanas quase tudo é resolvido em equipes.

Existem roteiros de atividades e assuntos que tratamos a respeito da empresa. A gente está falando de quase 4,5 mil quartos, unindo todos os hotéis da rede, é um volume muito intenso então articulamos uma agenda corporativa para resolver os temas e no meio disso surgem algumas oportunidades ou casos inesperados que tratamos o mais breve possível."

Início em resorts e os riscos planejados
"Tive a oportunidade de pegar o início desse processo de instalação dos grandes resorts no Brasil. Quando entrei para este setor tinham praticamente sete ou oito grandes empreendimentos, então era uma indústria muito pequena, não havia especialistas e eu aprendi fazendo. Aprendi correndo o risco de fazer. Claro, sempre junto com equipes competentes, dispostas a inovar, fazer mais e melhor, além de trabalhar o destino Brasil para o mercado exterior – o que até hoje é um grande desafio, que inclusive o Embratur ainda não conseguiu dar amplitude.

Hoje comemoramos 6 milhões de turistas contra 5 milhões, o que ainda é muito pouco pra uma nação deste tamanho. Aprendi assumindo correr riscos planejados."

Mapeamento estratégico é crucial para qualquer negócio
"Resorts e hotéis corporativos são negócios intimamente ligados. Percebo que, em ambos os negócios, a questão de entendimento de mercado é essencial. Você acaba segmentando quais são seus parceiros estratégicos, tanto pra um como para outro. Mapeamento estratégico de mercado, isso vale para tudo. Uma vez articulado este mapeamento, é possível fazer o planejamento específico, aí a companhia consegue, de fato, direcionar para aquele produto; seja ele lazer ou corporativo.

Em linhas gerais, acredito que o entendimento de mercado tem que ser pleno para que as estratégias sejam o mais assertivas possíveis. Quanto às dificuldades, elas existem para os dois lados. Para os resorts e estabelecimentos de lazer, o grande dificultador acredito que seja a malha aérea do País. Temos pouca competitividade entre operadoras, pouca cobertura aérea e oferta pequenas de voos de forma geral.

No segmento de hotéis de negócios algo que merece ser ressaltado é o mercado para investidores. Para eles os juros ainda são muito altos, os preços também caros e o retorno só vem a longo prazo. Então sem dúvida nenhuma é um desafio tocar os dois segmentos."

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"Acredito muito naquela história de mente sã e corpo sadio"

Público exterior; como trazê-los?
"Pensando em Comandatuba, que é do que posso falar com maior propriedade, a gente tem um destino que não é fim e sim conexão porque não há uma estrutura tão bem formulada. Então a primeira conta que o turista faz é quanto tempo ele vai demorar para chegar e aí depois pensa no que tem lá para fazer.

Sendo assim, o que fizemos foi inverter a estratégia; a gente começa falando do que ha lá para fazer. Assim, invertemos colocando o destino na frente para depois fazer o restante. O que chama a atenção é que os resorts ainda são um mercado pequeno. Olhando a costa de destinos internacionais e a gama de reservas naturais no interior desse País, percebemos que existe um potencial muito maior do que exercemos hoje, o que é muito bom pois temos a impressão de que é um setor que só vai crescer.

Agora entendo que tem que deve haver uma política mais agressiva, por parte dos destinos, trabalhando a captação de público estrangeiro, e por parte do governo, cada um fazendo sua parte e fazendo bem feito. Mas nem tudo é ruim. Vejo que o que tem hoje de iniciativa privada, em termos de investimento na hotelaria, com capacitação de mão de obra é muito competente."

Mudança de plataforma e criação do THG
"Nesse processo de mudança realizado há alguns anos, foi preciso entender, antes de tudo, a necessidade da modificação. Não mudar por mudar. A gente chegou num momento em que a terminologia flat já estava em desuso e as outras redes já estavam se posicionando na plataforma de hospitalidade, que confere mais abrangência. Tínhamos que seguir por este caminho.

Dessa maneira contratamos uma consultoria que nos ajudou a entender qual era o DNA e por onde podíamos encaixar esta proposta. Foram seis ou sete meses de trabalho muito intenso envolvendo diversos setores da rede e aí a gente chegou numa solução, definindo bandeiras. Identificando nossos hotéis e começamos a encaixar nas seis marcas que criamos.

Foi um processo de planejamento com altos investimentos mas que se mostrou muito vencedor. Hoje a gente olha para trás e apesar de todo o trabalho você vê que foi o movimento certo."

Heber Garrido
Garrido tem o curso de Comunicação Social como primeira formação

Visão impressões sobre o mercado
"Mudou tanto a indústria como mudou a minha visão, por conta do amadurecimento profissional. Mas, vamos tentar olhar a indústria, hoje a grande maioria dos empreendimentos hoteleiros [mais de 70%] é independente e fruto de investimentos familiares.

Quando entrei neste mercado esta diferença era ainda maior, as grandes redes não estavam aqui ainda. O ramo que vi quando entrei é totalmente diferente do que existe hoje, não dá nem pra comparar por que são coisas muito distintas. Entre essa multidão de mudanças tem um elemento que precisa ser salientado como diferença principal entre esses dois períodos, a tecnologia.

Este elemento foi o grande salto no setor. Esta foi a mudança mais significativa para uma aspecto de vital importância, a distribuição. Além de revolucionar o mercado este ponto também mudou os profissionais e hoje um trabalhados que não mudou já foi tirado do mercado. Você tem que estar conectado e não é só na internet, é a forma que você atua, é a gestão de estratégias. O mundo é online. Agora, pessoalmente, de lá para cá a principal diferença é que eu tinha cabelo."

Heber Garrido
Atualmente executivo se divide ente o escritório em São Paulo, viagens e o resort baiano

Inspirações profissionais
"Tive grandes professores, grandes oportunidades. Ninguém faz nada sozinho e acho que a grande diferença para uma carreira não é só lidar com grandes profissionais mas como você aproveita esta oportunidade. Consegui construir minha carreira com a ajuda de grandes profissionais e disponibilizando-se para o novo.

Sem duvida tive muitas referências e consigo até nominar algumas pessoas. Falando de hotelaria, quando resolvi me dedicar ao setor pedi, na companhia que estava, para assumir um cargo em São Paulo e à época o diretor da empresa era Roberto Galery, que é uma pessoa com quem aprendi muito e que apostou na minha vontade. Se não houvesse esse passo, essa porta, pode ser que minha carreira tivesse outro rumo, melhor ou pior, mas seria diferente.

A partir dali convivi com tantas outras pessoas que foram positivas no sentido de dar oportunidades, cobrar, dar suporte de aprendizado, serviram como modelo. Nomes como Julio Serson, Alceu Vezozzo, Guilherme Paulus, Paulo Bertero e o próprio doutor Aloísio Faria que é um grande investidor, uma pessoa ativa que me cobra basicamente inovação e expansão, são pessoas a quem de fato sou muito grato. Acho importante olhar para trás e perceber os momentos que foram importantes."

Importância da hotelaria para o turismo nacional
"Acredito que a hotelaria seja estratégica para o turismo do País. É o grande mercado responsável pelo desenvolvimento do turismo que estamos presenciando. É um polo importante para a geração de empregos (por exemplo você pega o Transamérica São Paulo, a gente chega a ter quase 500 colaboradores) e também grande fonte de renda para fornecedores de diversos tipos.

É uma atividade de mercado que tem força pra fazer algumas situações estruturais mudarem no País. Só não fez isso ainda porque permanece sendo um setor desunido. As associações tentam se aproximar do governo, e aí você tem um discurso de união que é importante, mas estamos falando de um segmento que tem 70% dos seus estabelecimentos funcionando de forma independente então é muito difícil conseguir consenso.

O que dificulta é que este é de fato um mercado fragmentado. Vejo que essas associações tem um caminho e importante e podem conseguir uma representação importante em Brasília."

Serviço
www.transamericagroup.com.br