Desenvolvimento hoteleiro em praças de menor relevância
mostra que setor tende a se articular para estar
presente e atender a diversas economias do País
(imagem: trocandoideiasti.wordpress.com)
 
É sintomático que algumas praças ainda estejam em pleno vigor – leia-se, em alguns casos, em estado que beira o virginal – para investimentos hoteleiros. É claro, o antolho se personifica e grande parte do mercado tende a se acotovelar em megalópoles como São Paulo e Rio de Janeiro – ainda que estas cidades estejam com o freio de mão puxado quanto a projetos em desenvolvimento, por conta da especulação imobiliária e aquele diálogo a essa altura deteriorado, obrigado.
 
A soma de redes que têm flertado com cidades atípicas não perfaz meia dúzia. Especula-se que há espaço para novas incursões – sendo que parte do raciocínio tem base em estudos de mercado encomendados pelos próprios grupos hoteleiros. Voos recentes, a exemplo da Blue Tree nos municípios de Votorantim e Valinhos, dão conta de que o argumento tem respaldo e que o interior paulista figura na lista desses potenciais destinos em progressão.
 
A presidente da rede hoteleira que leva o nome de árvore azul vê com destreza essas incursões. Uma vez que se consolidam projetos para a construção de hotéis, tais entradas tendem a alavancar toda uma cadeia econômica. Onde há hotel, comumente, existem empresas que darão conta da demanda do empreendimento – e aí toda uma enxurrada de famílias que migram para a região, o comércio se articula para atender essas pessoas, um movimento de urbanização se acirra. É uma equação matemática relativamente simples e que deveria ser via de regra num segmento com o mínimo de maturidade.
 
A própria Accor tem sublinhado essa possibilidade e mirado o interior do Estado de São Paulo. A número um no País em se tratando da indústria da hospitalidade divide seu share brasileiro em nove praças, sendo que o entorno interiorano contempla tal rol – daí o ar de relevância. A debutante Vert Hotéis, em meados do ano anterior, também já dava indícios de que erigir em cidades com população entre 100 a 300 mil habitantes, com modelos de franquia, o que seria um disseminador da marca Wyndham, representada pela empresa mineira representa em terras tupiniquins.
 
São sintomas de um mercado que começa a se metamorfosear e, espera-se, ganhar “tempo de madureza”, como diz Drummond, quando os frutos, diferente do Campo de Flores do poeta mineiro, “são” colhidos.
 
É tendência em qualquer setor maturado que regiões com menor fluxo se tornem também meios de se alavancar os dividendos e refestelar o bolso dos que nela direcionam seus aportes. A hotelaria pode viver este sintoma e há indícios disto. A aviação serve de base, uma vez que vem atingindo cidades, aparentemente, inóspitas, mas que suprem a oferta das empresas aéreas.
 
Assim, acredita-se, a pulverização da cadeia da hospitalidade às mãos de empresários independentes tende a se reprimir, o que por si só já é um paradoxo. Se por um lado traria padrão aos serviços e profissionalizaria a mão de obra, de outro concentraria tal indústria no portfólio de grandes conglomerados hoteleiros – que em sua maioria são estrangeiros, a exemplo das três maiores redes atuantes no País, cujo embrião se dá em outras paragens.
 
Não se trata de uma postura protecionista ou patriótica, mas sim de um questionamento plausível que deve vir à baila. Soaria como se a Coca-Cola fechasse todas as fábricas de refrigerantes menores, o que traz a pergunta: o mercado seria condescendente com isto?
 
É uma pecha que a própria indústria deve responder. Copiosamente as cadeias de porte ditam o que será desenhado no setor. A oportunidade nessas praças é fidedigna e indiscutível. Não deve ser diferente e, em expansão, a economia da hospitalidade vai se enraizar em lugares novos. À espreita, o hoteleiro independente e as redes com menor força terão de escolher o que fazer nessa chance que se personifica. Os gigantes já disseram sim.