Apartamentos do Sesc Bertioga, referência no turismo social
(foto: sescsp.org.br)
 
A consolidação de muitos setores ocorre quando ele se dissipa a todos. O turismo não foge desta via de regra e, sim, democratizar é passo primeiro para que se carimbe uma cultura nacional para o setor. A esperança que permeia tal indústria no que tange à propagação, dizem especialista, está na nova classe C brasileira – muito mais do que a leitura errônea de que a Copa do Mundo ou as Olimpíadas vão aumentar colossalmente a procura pelo produto brasileiro.
 
A nossa classe média é sim de suma importância e já responde por metade das passagens aéreas comercializadas no País. Dados do instituto Data Popular, divulgados nesta segunda (18), mostram que a parcela da população intitulada emergente comprou metade das 31 milhões de passagens vendidas nos primeiros cinco meses deste ano. Porém há outras formas possíveis.
 
Mais do que fazer com que a economia do turismo ganhe rijeza, e o custo das passagens aéreas começa a enveredar para este caminho, a democratização, por meio de ações sociais que viabilizem o acesso ao produto às diferentes camadas, serviria como instrumento de alívio às situações individuais desfavoráveis – é até jargão reafirmar que o acesso à cultura, e entenda-se o turismo como tal, funciona como transformação e progresso social.
 
A perspectiva de inclusão que emana do gene do Sesc (Serviço Social do Comércio), talvez maior exemplo quanto à democratização da atividade turística, é datada dos idos de 1948, época de criação da Colônia de Férias de Bertioga. Mesmo com as 43 unidades extra-hoteleiras que a entidade dispõe hoje e as outras cinco que devem ser inauguradas até o final de 2012, o modelo ainda parece engatinhar se olhados os muitos anos em que vem sendo executado o projeto.
 
À revelia do que se pode pensar levando em conta os mais de 60 anos de turismo social, os números não configuraram uma falência do sistema Sesc, mas, pelo contrário, indelevelmente esclarecem que o projeto deles é único e, notadamente, está longe de ganhar a ideologia do MTur (Ministério do Turismo) – cuja função é justamente proporcionar ganhos para a pasta.
 
É fatídico – mas fidedigno – pensar que, frente ao tamanho da cadeia produtiva do turismo, as ações do Sesc estão entre as poucas construídas sob esta leitura – que não é nova, porém só ganhará pujança se tida como ideologia para o mercado.
 
O turismo social é fator de inclusão e educação e deve trabalhar num processo de aprendizado contínuo e amarrado, no qual o participante, estimulado por novas vivências, encontra novo universo de referências que contribui para construção de outro olhar sob o mundo. O setor somente se desenvolverá se as pessoas se desenvolverem.
 
E tal recorte congrega toda a indústria turística. A aviação pode ser menos custosa, a hotelaria deve ser base à comunidade, bem como o estado deve viabilizar projetos que permitam tal crescimento. A diretriz básica é a que permeie o indivíduo transpondo o desenvolvimento ao coletivo.
 
No limite, é um debate que precisa de amadurecimento e citação constante. Afinal, a função da imprensa continua a ser “confortar os aflitos e afligir os confortáveis”, como dizia um cáustico jornalista do século 19.