Selo Leed na hotelariaHotel paulistano foi o primeiro a ganhar o selo Leed no país

Sustentabilidade agrega valor à marca? Pesquisas sugerem que isso é uma realidade. Estudo da Unilever de 2017, por exemplo, aponta que um terço dos 20 mil entrevistados prefere empresas que investem no bem social ou ambiental. E a hotelaria? Como lida com o tema? Quais as principais iniciativas vistas no setor? Os empreendimentos são construídos em bases sustentáveis? Como fazer isso?

Inegavelmente, os empreendimentos hoteleiros estão mais antenados sobre o assunto. Grandes redes internacionais investem em ações na área. A AccorHotels, por exemplo, tem o projeto Planet 21, enquanto a Marriott International promove o Serve 360. No Brasil ainda não existe um movimento unido e coeso relacionado ao tema. Ainda assim, ações individuais pipocam aqui e ali, muitas delas envolvendo a captação de energia por matrizes renováveis. Já a Slaviero Hotéis, por exemplo, anunciou que criará um programa para implementar o uso de ovos procedentes de aves criadas livres.

No que tange a construção dos empreendimentos, a certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design) é a principal referência global. O selo é obtido somente por edifícios construídos ou mantidos de maneira inteligente e sustentável, que atendem a rigorosos requisitos no que se refere a consumo de energia, uso racional de água, acessibilidade e implantação de áreas verdes, entre outros.

Selo Leed no Brasil

O Blue Tree Verbo Divino, em São Paulo, foi o primeiro hotel brasileiro a receber a certificação. Para chegar lá, o empreendimento teve assessoria do arquiteto Herbert Ortiz para atender aos requisitos do US Green Building Council, órgão que concede o selo Leed. O profissional realizou modificações em áreas externas, comuns e apartamentos, optando, por exemplo, pela iluminação LED. Com isso, a propriedade ganhou a categoria Silver em Operações e Manutenção para Edificações Existentes.

Para a avaliação, mais de 400 itens, como processos de conservação, operação e manutenção, foram revisados. Com isso, garantiu-se, por exemplo, que itens de limpeza fossem menos agressivos ao meio ambiente. Outro ponto importante foi a questão hídrica: atualmente, o hotel registra uma média de consumo diário de 180 litros por apartamento ocupado. Esse parâmetro de consumo representa economia de quase 30% em comparação com o período anterior ao ganho da certificação.

Em processo para a Certificação

O Four Seasons Hotel and Private Residences São Paulo at Nações Unidas, que vem sendo construído na capital paulista, está em processo de busca do selo Leed. Diretor da Iron House, gestora de investimentos imobiliários parceira da rede americana no projeto, Jayro Poggi reconhece a importância de obter o selo.

“Ele altera a maneira como pensamos sobre os edifícios, do planejamento e construção à operação. Cria maneiras inteligentes e eficientes de gerir os empreendimentos”, afirma o executivo.

Poggi acentua diferenciais sustentáveis do Four Seasons

Poggi diz que, desde a concepção, o empreendimento foi planejado com objetivo de pertencer ao seleto grupo de projetos líderes em sustentabilidade pelo mundo do Climate Positive Development, parceria da Fundação Clinton com o grupo C40 Cities. 

“O empreendimento tem um conjunto inédito de soluções sustentáveis que o torna apto a buscar a Certificação Leed”, afirma Poggi, que cita alguns exemplos. “Utilização de sistema de coleta a vácuo em todas as lixeiras do térreo do empreendimento e incentivo à carona e compartilhamento de veículos com vagas dedicadas são alguns deles. Durante a construção, também houve medição contínua e controle de emissões CO²”, completa.

Mesmo assim, o executivo reconhece que construir um empreendimento desse porte seguindo os parâmetros do US Green Building Council não é muito acessível. De acordo com o GCB Brasil (Green Building Council), ONG ligada ao WorldGBC (World Green Building Council), o retorno do investimento é de quatro anos para edifícios novos.

Busca pelo certificado

O selo Leed pode ser obtido por quase todos os tipos de empreendimentos, como lojas de varejos, unidades de saúde, escolas e shoppings centers, entre outros. Em 2018, a GBC Brasil acumula mais de 1,2 mil registros. O país é o hoje o 4º lugar no ranking mundial entre as nações com maior número de pedidos de cadastros de projetos. Em 2018, por exemplo, 26 estabelecimentos foram registrados.

Ainda assim, entre todos os projetos registrados, apenas 1,9% é do setor de hospitalidade, o que inclui hotéis, motéis, pousadas. Diante do perfil da hotelaria nacional, dominada por empreendimentos independentes, e dos resquícios da crise, que ainda afetam a rentabilidade dos hotéis, falar em investimentos de sustentabilidade no contexto atual é até complicado. Ainda assim, especialistas apostam em um crescimento, apesar dos custos mais altos.

(*) Crédito da capa: JimBear/Pixabay

(*) Crédito da foto: Divulgação/EBK PR