Em comunicado divulgado hoje (22), o Airbnb ressaltou números da empresa no mercado brasileiro. Segundo a organização, o impacto econômico direto gerado pela companhia, anfitriões e hóspedes atingiu R$ 7,7 bilhões ano passado. Embora o valor seja bastante inferior ao movimentado pela hotelaria, o crescimento frente a 2017 é de impressionantes 92%. Agora, a expansão teria sido tão expressiva se a regulação fosse mais rígida?

Bem, é difícil falar, mas arriscaria dizer que não. Regulação e tributação, aliás, são temas bastante sensíveis para a empresa, que, quando fala sobre os assuntos, coloca-se numa posição defensiva. Por isso, fiquei surpreso com a entrevista de hoje de Leonardo Tristão, presidente do Airbnb no Brasil, ao jornal O Estado de São Paulo. Nela, o executivo foi taxativo: “Não vamos aceitar alegações de concorrência desleal e de que não pagamos impostos”.

“Sempre dialogamos, porque fazemos parte de um novo modelo de negócios. A regulamentação não pode olhar o passado, mas sim o futuro”, continuou Tristão ao jornal paulistano. “No Brasil, nossa atividade é legal e se enquadra na lei do inquilinato. Cresci com meus pais alugando casas de praia no verão. Qual a diferença de fazer isso ligando para um número ou pela internet?”, completou.

airbnb - regulação x hotelariaPlataformas como Airbnb precisam de regulação específica para marketplaces

De fato, mesmo escrevendo e falando com/para hoteleiros todos os dias, acho que Tristão tem razão. O consumidor deve ser sempre soberano e ter liberdade plena de escolha, além de facilidade para tomá-la. Particularmente, continuo achando que há mercado para todo mundo e cada player (hotéis e plataformas) tem seus prós e contras para o cliente – e tendo a acreditar que isso varia de viagem para viagem.

Agora, apesar da fala firme de Tristão, é difícil negar que a plataforma de hospedagem alternativa não tenha vantagem competitiva frente à hotelaria. Na minha ótica, essa serventia é nítida e, mais ainda, ela não existe apenas em relação ao setor hoteleiro…   

Airbnb e carga tributária

Hoje, segundo informações do FOHB (Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil), a hotelaria tem uma carga tributária de 37%. Ou seja, de uma tarifa de R$ 100, R$ 37 é do governo. Agora, some custos de pessoal, água, luz, comissões para terceiros e fica fácil concluir que as margens no setor hoteleiro são estreitas. A partir da ótica do anfitrião, ele apenas declara os ganhos na plataforma à Receita Federal, pagando 27% de imposto. Se o imóvel estiver no nome de uma pessoa jurídica, esse percentual cai para 14%, enquadrando-se no Lucro Presumido.

Na ótica do Airbnb, por sua vez, a vida é mais fácil. Como mostrei em matéria publicada em abril, a empresa obviamente paga impostos, como contribuição social sobre lucro líquido e IR (Imposto de Renda). Ainda assim, a carga tributária que incide sobre ela é menor do que a paga por hotéis. Vale destacar ainda que a plataforma recolhe ISS (Imposto Sobre Serviço) apenas em São Paulo, onde fica seu escritório no país.

Com isso, no meu entender, a companhia consegue (sim) vantagem competitiva. Esta, por sua vez, traduz-se em mais fôlego para investir em marketing (digital e offline) e, claro, no desenvolvimento de sua plataforma tecnológica, que é um grande diferencial para gerar negócios. Vale destacar também que a competição é desleal, principalmente, com a hotelaria independente, que tem parcos recursos para aportar nos dois pontos citados acima.

Para fechar, atenho-me a um trecho da fala de Tristão: “A regulamentação não pode olhar o passado, mas sim o futuro”. Concordo totalmente com ele. O modelo de negócio do Airbnb é novo e disruptivo, assim como do Uber. As autoridades ainda buscam um entendimento de como tributá-los e isso precisa ocorrer. Hoje, a regulação é nebulosa e desigual para outros meios de hospedagem. Para o futuro, quem sabe, ela fica mais parelha – e aí descobriremos se as taxas de crescimento serão tão grandes como as atuais.

(*) Crédito da capa:Marten Bjork/Unsplash

(**) Crédito da foto: TeroVesalainen/Pixabay

(***) O texto não representa a opinião do Hotelier News