(foto: visitesaoluis.com)
 
Como todo setor em expansão, a hotelaria vivencia algumas perguntas. Perscrutando tal mercado, tem-se inúmeros quesitos que, mais à frente, podem funcionar para os dois lados da moeda – a exemplo do próprio crescimento vertiginoso que, nos dois últimos anos, personificou-se e, em contrapartida, trouxe paradoxos. Vale aqui alguns interstícios a serem explicados.
 
O quão as grandes redes tomaram mercado e se consolidaram funciona como primeiro ponto. De um lado, a entrada de players internacionais na hotelaria brasileira trouxe um profissionalismo que equiparou a qualidade dos serviços prestados no Brasil à de tantos outros países de excelência no setor. Neste cenário, viu-se o segmento criar empregos, fortalecendo-se e mostrando o País a grandes investidores internacionais, o que, notadamente, fomentou a economia e, se é que se pode dizer, criou um momento assecuratório à indústria de hotéis.
 
Em contrapartida, a hotelaria independente tem visto minguar suas chances de morder essa fatia do bolo que é, antes de mais nada, brasileiro. Sem poderio para aportes significativos, este hoteleiro que cobra a falta e está na área para cabecear e fazer o gol tem de se reinventar sem que haja gastos em recursos humanos, publicidade, ampliação de estrutura e afins – claro: privando sempre por um serviço boníssimo.
 
O maior despautério em tal cenário é que o empresariado doméstico vê-se muito distante de se consolidar – frente às diversas forças externas que pelo País figuram. À exceção apenas de algumas redes independentes estrangeiras, pouco se vislumbra de crescimento para um empreendedor que, sem capital, tende a se tornar apenas mais um no obscurantismo.
 
As pressões não são poucas. Levando em conta somente este ano, são incontáveis os grandes grupos de outros países que estiveram no Brasil para tentar se arraigar em terras tupiniquins, ou até mesmo demandar turistas domésticos às suas nações. Notório que esse boom é recente, mas já faz suas vítimas.
 
Se se observar desde o início do século, a hotelaria viveu nuances diversas que, anteriormente, a deixaram numa margem negativa. Ao final de 2001, o medo dos executivos de viajar de avião após os atentados aos Estados Unidos somou-se ao desaquecimento econômico, e o resultado foi que a hotelaria de negócios nos grandes centros ficou à deriva. Isto num momento em que, a exemplo de São Paulo, o número de quartos havia dobrado.
 
Mais à frente, o que previam os analistas se consolidou, e o número de unidades habitacionais disponíveis atingiu os 50 mil em São Paulo – o que, por conseguinte, reverberou, pelo menos nos dois anos seguintes, numa crise de superoferta. Em 2008, a crise financeira mundial continuou freando o setor, e somente em 2009 o mercado se refez.
 
Tal dramaturgia somente se recompôs com as notícias de que o Brasil sediará os mundiais esportivos em 2014 e em 2016 – sintomaticamente, levando a hotelaria a se levantar num viés avassalante. Pouco se diz nesse sentido, mas necessário pontuar que a recuperação deste mercado segue de mãos dadas ao próprio crescimento da economia nacional – e não em decorrência da Copa ou das Olimpíadas.
 
Mesmo com o amadurecimento da qualidade dos serviços e o aprendizado desses anos de crise, o hotel independente continua fadado ao segundo plano. Por missão, o hoteleiro neste empreendimento presisa ser que nem um médico e estudar continuadamente para manter o seu produto always on top
 
Os efeitos intrinsecamente perversos que esse descaso pode causar ao empresariado nacional ainda são desconhecidos. Por ora, é necessário dizer que as grandes redes, cuja menção é autoexplicativa, devem sair ainda mais fortalecidas nesta matemática em que a hotelaria brasileira é menos importante do que a estrangeira. Seria, pois, desejável, que política deste mercado revisite seus conceitos – antes que os menos favorecidos sejam sucumbidos e figurem no museu da indústria hoteleira do País.