Hotelaria - análise Pedro Cypriano_info 2Boa performance do Carnaval no Rio dissipou-se rápido com o coronavírus

Em uma resposta rápida à primeira pergunta, é muito provável que sim. Em praças centrais como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, a ocupação chegou a mínimas históricas, e de maneira abrupta, como já havíamos mostrado anteriormente. Já para o outro questionamento, ainda é difícil fazer projeções, até porque ainda vivemos o período pico de infecção da doença – e não sabemos aonde ela vai parar. Ainda assim, há alguns pontos que o hoteleiro precisa ter em mente daqui para frente, estando o hotel fechado ou não. 

Para ampliar o debate, o Hotelier News conversou com Pedro Cypriano, Managing Partner da HotelInvest, que vem fazendo um importante trabalho de mapeamento de dados do setor nessas duas cidades. Na última versão do levantamento feito pela empresa, que leva em conta a última semana de março (22 a 29), a ocupação em São Paulo e no Rio de Janeiro chegou a 5%. Frente a igual período de 2019, a queda verificada foi de 91% e 93%, respectivamente. “Fechamentos realizados e previstos em São Paulo já se aproximam a 50% do inventário e o mesmo padrão deve ser visto em outras praças”, prevê o executivo.

Apesar da escuridão no fundo do poço, uma frestinha de luz ainda é possível ser vista de relance. Pelo que levantou a HotelInvest, as diárias médias ainda resistem e pouco oscilaram até o momento (veja gráfico abaixo). “É um dado positivo e que pode levar a uma recuperação mais rápida do setor lá na frente”, avalia Cypriano. “Ainda assim, sem pressão de demanda, é natural que os ‘gatilhos de precificação dinâmica’ não aconteçam e a tarifa tenda a cair um pouco no curto prazo”, completa.

Hotelaria - análise Pedro Cypriano_info 1Resiliência: no Rio, a diária média não variou tanto para baixo

Nesse ambiente de forte retração na atividade hoteleira, Cypriano acredita que ações de contenção de gastos e liquidez devem pautar as ações de redes hoteleiras e investidores, no curto prazo. Ele pondera, entretanto, que ainda é cedo para prever quando ocorrerá a reabertura das propriedades. “A tendência é o cenário se normalizar apenas em julho, se a contenção da pandemia for bem-sucedida no Brasil”, avalia.

A tentação da hotelaria

Sim, quando o mercado retomar, haverá uma verdadeira corrida pelo ouro. Para Cypriano, o mercado não pode cair na tentação de entrar em uma guerra tarifária. “Se isso acontecer, as perdas financeiras do setor seriam ainda mais altas, especialmente em médio prazo”, acredita. “A evolução de diária será determinante na velocidade de recuperação do setor”, completa.  Para reforçar seu raciocínio, o executivo da HotelInvest cita um exemplo que permite quantificar melhor como a queda de diária poderia ser prejudicial ao setor.

“Em um hotel com 200 UHs e ocupação média de 70% em 2021, caso a diária caia 20% (de R$ 330 para R$ 280,50) a perda em receita seria equivalente a R$ 3,37 milhões. No lucro operacional, a diminuição chegaria a R$ 2,19 milhões no ano, ou R$ 913 reais por apartamento ao mês. E para recuperar o desempenho original, o mesmo hotel poderia levar até o final de 2024, se a correção média de tarifa chegasse a 5,5% ao ano a partir de 2022”, calcula.

Voltando à segunda pergunta do título, os quatro próximos meses do ano serão críticos para ter um horizonte melhor. Apesar da recuperação lenta inicialmente da ocupação, que deve acelerar a partir de julho ou agosto, é factível pensar que a demanda volte a patamares próximos ao de 2019 até o final do ano. 

“O principal risco concentra-se mesmo na diária média. Se cair, a curva de recuperação de RevPAR será muito mais longa”, aposta Cypriano. “Apesar de tudo, ainda mantemos o otimismo. Apesar de uma possível recuperação em U (mais longa), ainda acreditamos que no início de 2021 as mesmas perspectivas do início deste ano possam voltar: intensificação de crescimento, valorização dos ativos e novas oportunidades de investimento”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Vinicius Medeiros/Hotelier News

(**) Crédito dos gráficos: HotelInvest