(imagem: imoveissustentaveis.com.br)
 
Paira sob o empresariado brasileiro – e ora ou outra em todo o mundo – espécie de factoide que leva o nome de sustentabilidade. Vendido como referencial de êxito para todo o tipo de empreendimento, o tema ainda perdura infantil por essas paragens – apesar de muitas empresas já o terem arraigado ao discurso e às campanhas publicitárias. A hotelaria não foge à regra e segue na boleia deste comboio.
 
Não há que se negar: o diferencial da sustentabilidade é moeda de troca primeira para que, de fato, o hoteleiro se distinga num mercado tão efusivo e competitivo. Todavia, tal esquema figura incipiente no País e, vez ou outra, a responsabilidade empresarial é confundida com práticas sustentáveis.
 
Há uma barafunda acerca do que é ser sustentável, e, comumente, empresários de todas as estirpes tendem a dizer que apoiar uma mostra do artista X é sinônimo de desenvolvimento sustentável. Enganam-se e replicam tal fala repleta de inorganicidade e verossimilitude.
 
Elencar e construir formas sistêmicas para se relacionar com o planeta – atribuindo equilíbrio aos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade – ainda é algo longínquo no Brasil. Entretanto, há fomentos para que isso se construa – leia-se, até mesmo, a garantia de mais cifrões.
 
Exemplo claro e favorável de que a sustentabilidade, além de politicamente correta, traz dividendos é o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), criado pela Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) para transformar a questão num ponto de marketing. O índice acabou se tornando baliza para despertar o interesse de investidores nas ações de empresas que possuam políticas claras de respeito à responsabilidade social de seus empreendimentos, produtos, serviços e ao meio ambiente.
 
Ainda que o mercado hoteleiro no Brasil não flerte tanto com a Bovespa, há também ferramentas específicas no próprio setor – a exemplo do Manual de sustentabilidade para os Pequenos Meios de Hospedagem, lançado recentemente pela parceria ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e IBH (Instituto Brasileiro de Hospedagem). O material é um manancial de práticas para que hotéis e pousadas de menor porte se consolidem e se posicionem acerca da lógica sustentável.
 
Mais do que reflexões – por vezes até filosóficas – quanto à perspectiva verde no turismo, o manual expõe medidas tangíveis e aplicáveis no que tange a questões como gestão de água, de energia, de resíduos sólidos e de certificação. Traz capítulos como Sensibilização da equipe de colaboradores e dos hóspedes; Comunidade local e tradição; e Mercado de turismo sustentável no mundo – argumentados com cases que fluíram.
 
Formas e louros existem para que se refaça a mentalidade quanto ao tema, e é efetivamente positivo que a hotelaria parta para a nova vertente. O planeta dá sinais claros de que não suporta mais o ritmo de consumo imprimido nos dias atuais, requerendo novos comportamentos neste cenário. Ainda assim, as ferramentas estão aí e são pouco utilizadas.
 
O que precisa ficar lúcido é que a reestruturação do conceito de sustentabilidade e a aplicação da máxima em si são fenômenos que não podem ser freados. É hora do empresariado – seja hoteleiro ou não – adotar verbos que por décadas ficaram esquecidos. Reduzir, reutilizar, reciclar, repensar e, vez ou outra, recusar são palavras de ordem para que práticas exequíveis e mensuráveis tomem forma. Essa mudança é decisiva para que o desenvolvimento seja via de regra, pois a era do finito já foi iniciada há tempos.