Peter Kutuchian
(foto: Filip Calixto)

A cidade do Rio de janeiro, o “cartão postal” do País passou a fazer parte do imaginário popular mundial a partir da década de 1940, quando Carmen Miranda, com o seu talento de cantora, atriz e dançarina, conquistou a América com os seus balangandãs, projetando símbolos brasileiros para todo o mundo. Na mesma década, Walt Disney apresentava o bom malandro Zé Carioca – com a sua esperteza, mas também com todo o romantismo e carisma do destino, que na época era nossa capital nacional. 

Os anos seguiram e, enquanto o painel de “Guerra e Paz”, do artista plástico brasileiro Candido Portinari era atração da sede da ONU – Organização das Nações Unidas, em Nova York, Antônio Carlos Brasileiro Jobim e companhia conquistavam o mundo com o seu samba-jazz elegante, um jeito completamente novo de tocar violão e letras exaltando as belezas cariocas. O Rio de Janeiro oferecia ao mundo um novo estilo musical: a Bossa Nova. 

O Brasil crescia e não era mais o país apenas das belezas naturais. A sua produção intelectual passava a ser muito valorizada também. Sua arquitetura e urbanismo com Niemeyer e Lúcio Costa. A miscigenação de seu povo “transbordava” numa gama de produções e expressões artísticas admiradas e “consumidas” ao redor do mundo. 

Garota de Ipanema – a segunda música mais tocada de todos os tempos –, Corcovado, Copacabana (princesinha do mar), Samba do Avião e outras inúmeras canções reforçam por décadas as maravilhas da cidade através caixas de som de todo o mundo.

E tem o futebol. O Maracanã.

E uma das novas "Sete Maravilhas do Mundo Moderno", o Cristo Redentor.

Mas ainda faltava um megaevento global para entrar, de uma vez por todas, nos principais centros de distribuição do setor. Chicago, Madrid e Tóquio sucumbiram, em 2009, ao Rio de Janeiro que sete anos depois, em 2016, abrigou os primeiros Jogos Olímpicos realizados na América do Sul.  

Um cenário que poderia ser perfeito para fortalecer ou criar bases sólidas para o setor hoteleiro na cidade. À época, escrevi que tínhamos uma oportunidade única para recolocar o Rio no cenário internacional e virar um destino chave como Nova York, Paris e Londres.

A partir daí, o que vimos foram os preços de imóveis dispararem. A hotelaria criou expectativas sem precedentes. As redes nacionais e internacionais pareciam ter visto ao mesmo tempo potes de ouro aos pés de arco-íris simultâneos. A cidade se tornou um canteiro de obras, enquanto pipocavam denúncias de superfaturamento. Tudo feito “a toque de caixa”, como a Basílica de Aparecida, aquela que ficou mais de 30 anos em obras para, ao anunciarem a visita do Papa, ser terminada às pressas.

Com o investimento alto para suprir a demanda dos Jogos Olímpicos, mas sem políticas públicas e planejamento que pudessem seguir nutrindo a rede de hotéis fartamente ampliada, o boom do setor hoteleiro na cidade, que poderia ser sustentável, durou apenas um mês.

O setor voltou a depender do muito da indústria petroleira e serviços relacionados a ela. Contrariando o aforismo clássico, “estavam postos todos os ovos na mesma cesta”. Então, vem a crise política embrenhada na Petrobrás e o seu “tiro de misericórdia”. 

Com tantas possibilidades, tantos bons argumentos para uma exploração sadia da Cidade Maravilhosa, como pudemos deixar toda a cadeia hoteleira ficar à mercê de um único segmento para "zerar" os custos. O Lazer que poderia ser a lucro permanente com a vinda de milhões de turistas domésticos e internacionais parou de vir. As ondas da crise, a bancarrota e o aumento da violência se transformaram na pá de areia que foi jogada sobre a cidade.

Qual solução que resta aos hoteleiros, donos de restaurantes, de casas noturnas, bares, teatros, museus; enfim, todos aqueles responsáveis por ambientes que contribuam para que a cidade siga pulsando. Para que os artistas sigam expondo, os músicos tocando, os atores interpretando. Ou seja, todos que atuam nos bastidores para tornar a cidade do Rio de Janeiro cada vez mais atrativa, segura e confortável aos seus visitantes. 

Qual será a fórmula? A união de todos fará a força? Ou os bicheiros vão voltar a ser as manchetes novamente?

Mãos à obra, porque tem muito trabalho pela frente.

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Peter Kutuchian é formado em Administração de empresas com ênfase em Hotelaria pela Fisp/FMU, iniciou sua carreira na hotelaria, em 1991, no Maksoud Plaza como recepcionista. Atuou como caixa da Recepção no ex-Sheraton Mofarrej, depois entrou na Meliá como gerente noturno do atual Sheraton São Paulo WTC. Ainda na Meliá, implantou e abriu o Tryp by Wyndham Itaim e, posteriormente, o atual Slaviero Essential SP Moema. Em 2003, foi um dos fundadores do Hôtelier News, portal que mantem como publisher.

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