(imagem: https://hypescience.com)

Há quem assinale que entre os problemas mais latentes e sintomáticos para o desenvolvimento da indústria turística brasileira está o fato de a população, em sua maioria, não compreender o setor como atividade econômica. Isto, aparentemente, imbui uma cultura de não atender o turistas da forma esperada, de não saber indicar um programa cultural relevante ou até mesmo depreciar um patrimônio cultural ou natural já que este setor, no imaginário do cidadão comum, não representa lá tantos dividendos para o País.

É uma leitura – pouco fidedigna mas existente – que tem base até mesmo em evidência mais simples, a exemplo, sem chutar cachorro morto, da imagem propagada do Brasil como destino turístico do Carnaval. Daí o próprio cidadão comum não ver tal segmento como algo sério e de relevância produtiva para o desenvolvimento social – pelo contrário, entende o turismo como única e exclusivamente entretenimento.

Eis uma especulação possível. Contudo a farpa incrustada é bem maior do que se vê no lugar comum – a começar pelos próprios envolvidos com este mercado. O turismo só vai figurar como alavancador econômico quando começar a fazer parte dos cadernos de economia da grande imprensa, muitos dizem, para que efetivamente o onisciente coletivo tome esta referência como baliza. É bem possível que a projeção tenha respaldo.

Acontece, sem discurso generalista, que muitos players do próprio setor tendem a tocar a atividade nos moldes citados acima, como uma boa ‘farra’ do alto escalão. Exemplo claro é quando – seja com a mídia especializada ou com jornais de circulação nacional – convocam coletivas de imprensa como se estivessem fazendo ações de relacionamento. Mais do que isto, pois em muitos casos eles até estão, unem jornalistas a agentes de viagem como se os fins de ambos fossem os mesmos.

Daí a enxurrada de equívocos reverbera: os porta-vozes oficiais não sabem a quem estão falando e comumente reproduzem dados de mercado – de suma relevância para os jornais e para o leitor – juntamente com elogios parcos e narcísicos de seus hotéis, companhias aéreas ou operadoras de turismo.

O tom institucional ganha fôlego neste aspecto – tornando-se único em grande parte dos casos -, uma vez que dados que são de fato noticiosos e cabem, sim, nos cadernos de economia dos papas da imprensa brasileira acabam sendo confundidos com informações marqueteiras descabidas e em maioria egocêntricas.

Não que a via de regra seja somente esta, pois há empresas que tratam a imprensa com postura profissional e, notadamente, observam este conglomerado de seriedade reverberado quando das publicações de um fato. Mas há também, e aí em número mais robusto, os que confundem as esferas e acreditam que a melhor maneira de pipocar nos holofotes da mídia é servindo prosecco a repórteres e clientes numa grande festa do ledo engano.

A imprensa trabalha com números, recortes que estão descolados do senso comum, reflexões e previsões do que pode vir a ocorrer em dado setor conforme as ondas que o levam. O espetáculo da vida alheia, a opinião de que sua empresa é a melhor do segmento ou o bombom que é oferecido ao hóspede quando da abertura de cama – diga-se de passagem o básico do básico, que continua a ser tratado como o surpreendente – pouco interessam quando se pensa em projetar um setor como atividade econômica profícua e necessária ao desenvolvimento do País.

Quando os representantes da indústria turística compreenderem esta matemática infantil e adotarem um posicionamento maduro, ficará mais fácil se posicionar e demonstrar uma imagem sóbria que vai propagar no imaginário coletivo. As mudanças, viva o clichê, só vem de cima – e se nem os que trabalham com o turismo sabem o que esta atividade significa, não serão os que estão de fora que gentilmente vão percebê-lo.