Hotelaria
(imagem: clerkhotel.com)

À convulsão sintomática que permeia a hoteleira brasileira nos últimos anos – com índices repetidos de crescimento, redes em expansão copiosa e uma demanda que ganha elasticidade em velocidade incomensurável – soma-se um drama ainda longe de ser sanado: o da capacitação.

É surrado o argumento de que a mão de obra do setor hoteleiro no Brasil carece de investimentos e, mais do que isto, de exemplos de como desenvolver tais habilidades. Há métricas para formar profissionais? Qual a somatória de medidas profícuas neste sentido? O que quer dizer um executivo bem preparado? Será que temos temos profissionais qualificados para avaliar quem está qualificado? Será possível moldar um perfil de trabalhador específico quando se tem inúmeros modelos de hotéis no País e, por conseguinte, necessidades díspares?

São indagações, ainda que abstratas, que têm um quê de possibilidades de serem esmiuçadas. Avaliar, apurar a veracidade e selecionar o melhor currículo pode ser uma medida – mas não algo preciso. O Prêmio VIHP (Very Important Hotel Professional) – que na noite de hoje (18) dá nome aos profissionais que mais investiram em suas carreiras no ano de 2012 – contribui para desenhar um holofote neste sentido.

Decerto, não há maneira precisa e indiscutível de se formar um bom executivo para atuar na indústria da hospitalidade – alguns míticos apelam até mesmo para a vocação -; mas algumas delimitações são imprescindíveis para se estipular isso.

A sintetização básica de formação técnica e acadêmica mesclada à prática da atividade é um modelo, no mínimo, de amparo. Sem a necessidade de uso de matemáticas muito capciosas, esta é ainda a noção primária em qualquer atividade.

E reconhecer isso, por meio de uma condecoração avaliada minuciosamente por técnicos do segmento e por um processo de filtragem fidedigno e explicito, é um norte – uma vez que o setor tem às claras os porquês, em termos de dedicação ao aprimoramento pessoal, assinalados como viabilizadores da premiação.

Os advogados da hotelaria retrógrada e conservadora, desenhada em alguns casos em moldes familiares e que reproduzem o “sempre funcionou assim, assim vai continuar”, vão defender que o dia a dia de uma operação supre qualquer conhecimento adquirido em salas de aula. Pode até ser, assume-se, mas não é via de regra.

Em tempo, é necessário assinalar que há administrações familiares fantásticas, que remetem à premissa básica da hospitalidade; bem como há hotéis de rede exercendo trabalhos pouco profissionais e, acrescente-se aí, operando em moldes familiares. Não há verdades absolutas, mas feridas latentes a serem curadas.

Às claras, tais posturas têm respaldo no fato de muitos profissionais sem formação teórica exercerem a atividade cotidiana com maestria. Ocorre, sem questionamentos, mas é exceção – e aí a exceção acaba confirmando a regra. Contudo, o profissional que executa, sem noção técnica, tendo aprendido pela osmose do habitual, tende a enfrentar problemas e emudecer na hora de pensar o global – justamente pela falta de conhecimento teórico.

Ele realiza a tarefa, porém pouco sabe pensar o que faz e se é possível fazê-lo em outros moldes no momento de metamorfoses – diga-se de passagem, cada vez mais comuns no contexto do turbocapitalismo predatório.

Não se trata de corporativismo, mas sim de constatação. Educar, ainda que não seja objetivo cultural na formação do indivíduo brasileiro, é medida possível para se atingir qualquer intento, mesmo que o conceito de um bom profissional seja amplo e se construa numa bacia polifacetada.

A qualidade deste ensino, pois, também entra na lista de farpas incrustadas do turismo brasileiro, o que é tema para outro debate – não menos turbulento quando se pensa a semiparalisia do aprimoramento.