(imagem: favip.edu.br)

A hotelaria brasileira assiste, impaciente e preocupada, à solidificação do que pode ser definido como tiro no pé, a exemplo do que se passou na última semana com a edição 55 do Conotel (Congresso Nacional de Hotéis), realizada na capital paulista.

O tom político, o discurso verborrágico e a rasgação de seda desmedida, posicionamentos clássicos do evento, estavam presentes. Mas não foi só isso, a contenda foi além.

Na segunda-feira (25), quando da abertura das palestras, o soco no estômago veio de primeira e sem aviso prévio com o economista Delfim Netto. Ao ser questionado sobre a ausência de incentivos ao setor hoteleiro do Brasil, declarou: “Só recebe atenção quem chora mais alto. Vocês elegem deputados em todos os estados. Agora só precisam se articular melhor politicamente. É assim que funciona”. A fonte independente, sem rabo preso, disse exatamente o que não se queria ouvir.

O pontapé número dois veio do consultor Stephen Kanitz, já na última sessão do evento. Para ele, é preciso que empresários pensem em fazer mais meios de hospedagem populares, e não “hotéis para os mais ricos”, contudo, estas unidades econômicas têm de ter preços “honestos”. Daí agrava-se outro ponto, já escaldado por aqui, de que o valor das diárias praticada não condiz com o que é oferecido.

Isto, quando colocado às claras, destoa das oratórias da conveniência e da influência – repetidas para tomar o imaginário coletivo do empresariado e da opinião pública – de que a hotelaria brasileira é mísera, sofre para manter as contas em dia e é pouco observada pelo Estado. Ao contrário, quando julgamentos neste compasso aparecem, o que se exaspera é uma crítica a associações privadas do setor que, apesar de propagarem copiosamente lamúrias e pretensos esforços, ficam desnudas por alguém de fora apontar o indicador em suas caras rubras.

Mais do que isso, a dita imprensa especializada corrobora esses discursos de entidades civis organizadas como se fosse proibido atacar sua fonte, aliás, seu cliente – no caso de alguns. Há até quem tenha se posicionado nas palestras dizendo que publicar este tipo de notícia, tida como negativa para o setor, é coisa da imprensa marrom. O que não se pensa é que sair da zona de conforto é o que faz mudanças desabrocharem. Por isso, a crítica é sim necessária e positiva para o aprimoramento da atividade hoteleira.

Mas a condescendência e a passividade soam melhores, obrigado. Compromisso com o leitor, contudo, não trabalhamos. Sou eu falando de mim para mim mesmo. Não há posicionamento crítico: a conivência e o tapinha nas costas andam de mãos-dadas. Isto, tragicamente, exaspera questões comerciais que deveriam ficar por baixo dos panos – porém ficam cada vez mais latentes – e fogem ao marketing discursivo de poder chamar de imprensa o que se tem no setor. Chapa branca é o sobrenome, inclusive.

É indiscutível que entidades privadas já trouxeram benesses inegáveis ao setor e tem poder de transformar isto em via de regra – até porque a criação destas tem tal propósito. Bem como há jornais sérios – poucos, mas há – cujo comprometimento primeiro é com o que é propagado para o leitor. Sem discursos generalistas – apesar das cicatrizes mordazes da passividade que figuram por aí.

Outro sinal claro é que isto não vai minguar o grau profícuo que a hotelaria brasileira tem vivenciado nos últimos anos. Tampouco fazer com que o empresariado se afaste destes que são tidos decanos do setor. O que estas entrelinhas transparecem, todavia, é que a busca por articulação precisa sair do discurso demagogo propagado por notinhas de assessoria de imprensa replicadas sem reflexão alguma. Não é por isso que vão deixar de discorrer à larga o discurso de que a hotelaria é coitadinha.