(foto: eloizanetti.com.br)

Novidade propriamente dita não é, mas pesquisa recente produzida pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) dá conta de que o mercado hoteleiro no Brasil, apesar da choradeira existente, não sofre de concorrência, mesmo tendo uma realidade pulverizada.

Segundo o material, os 20 maiores grupos do segmento administram mais de 500 hotéis (cerca de 2% do total); porém, ofertam 18,8% das unidades habitacionais do País. Ou seja, são empresas que têm uma fatia gorda do setor, são poucas e gozam de benesses por controlarem muito bem as articulações necessárias para seus interesses particulares.

A rasteira consiste em propagar um discurso uníssono em boa parte do mercado dizendo que o crescimento vertiginoso deste tem acirrado a concorrência e, desta forma, está cada vez mais complexo manter determinados tipos de negócios de maneira rentável. Balela.

No outro lado, com tom demagogo, há os que advogam que quanto mais concorrência melhor – o que seria o paraíso na terra -, pois, neste contexto, os hotéis teriam de se modernizar para acompanhar a toada do mercado e, assim, manterem-se interessantes para o cliente.

Nas duas pontas, de qualquer forma, há um quê de sensatez.

No primeiro exemplo, as tarifas teriam de se adequar à realidade do setor, com preços mais palatáveis, e, desta forma, clientes com menor poder de compra teriam acesso a este tipo de serviço – alavancando a demanda num movimento tênue e copioso. Isto, especula-se, é o cenário ideal de qualquer indústria em lapidação: amplia-se a concorrência, os players se aprimoram e se adéquam aos preços e, por fim, o número de hóspedes ganha elasticidade – o que possibilitaria manter a rentabilidade por meio do volume de vendas.

É o desenho, ainda longe de sair do papel, de um segmento que tomou maturidade, mas não passa de rabisco no Brasil.

Quanto à ampliação da concorrência, sim, é provável que esta leitura mais liberta tenha sentido – uma vez que exigiria melhora coletiva do setor quanto à estrutura e quanto aos serviços oferecidos. Por assim dizer, a hotelaria modernizaria seus empreendimentos atingindo padrões internacionais e ganharia linhas gerais de uma atividade profissional, sem amadorismo – o que soa como melhor dos mundos.

Acontece que, nem num grafismo nem em outro, assume-se o que o Dieese assinalou: todo mundo está de barriga cheia, não sofre com o vizinho e, no mais, tem tarifas que seguem a métrica das muitas outras áreas da economia brasileira: caras e sem contrapartida em relação ao que é disponibilizado. A diária de um hotel que custa R$ 600 no Brasil sai por menos de US$ 150 em Nova York. Para onde este cliente irá?

No mais, a combinação entre questões geográficas na oferta de leitos e distribuição destes segundo sua categorização (pousadas, hotéis urbanos, resort etc) configura um mercado peculiar e restrito àquela região, resultando, muitas vezes, em pouca concorrência. Em geral, hotéis cinco estrelas não competem com pousadas três estrelas, que por sua vez não concorrem com hotéis quatro estrelas, e daí por diante. Poucos estabelecimentos atuam sobre o mesmo nicho e na mesma localização.

Há mercados sim, como o paulistano ou o fluminense, onde os empreendimentos têm todos a mesma cara e oferecem benesses semelhantes. Todavia, são regiões onde a demanda é nebulosamente grande e, assim, não há do que se lamentar.

Numa economia que priva o lucro sem grandes tons poliânicos, não há nada demais em fazer a coisa rodar e chegar ao desejo empresarial: mais dinheiro. No entanto, sair do armário faz-se necessário – ainda que assumir determinados fatores obrigue a caciquia do mercado hoteleiro a se rearticular e melhorar seus serviços. É sempre mais provável que se opte pela conjuntura do mais fácil – não pensando no amanhã se uma maré nebulosa aparecer.