(imagem: anormal-anm.com)
A intelligentsia do turismo brasileiro há muito vem especulando as mudanças de comportamento ocorridas no setor frente à revolução exacerbada dos meios virtuais. A dinâmica destas ferramentas, há de se dizer, tem se revelado de forma cada vez mais rápida e, consequentemente, os players do mercado tendem a se adaptar a ela numa velocidade, em tese, inalcançável.
Ora, parece pouco provável que a intitulada versão virtual da indústria turística ponha fim a práticas antigas que ainda soam muito comuns a este segmento econômico; em específico no Brasil, nação cujo os clientes – e o indivíduo como ser existente do ponto de vista social – ainda têm ranços latentes de um contato físico necessário para realizar seus negócios.
A criação da imprensa não colocou fim aos livros, o rádio não sucumbiu ao cinema, este não morreu com a televisão e a internet também não vai dar cabo às demais mídias – hoje lidas como tradicionais. Há uma intersecção constante desses canais, e o resultado desse flerte é uma cultura hipercomplexa, com novas formas e sinais comunicacionais que se relacionam e rearticulam seus desenhos para significar de outra forma – e sublinhe-se, aqui, dificilmente suprimindo um ao outro.
Todavia, uma coisa é sintomática no tempo atual: daqui a alguns anos, caso a existência humana não vire lenda devido a algum tipo de intervenção de raios solares ou catástrofes similares, afetando os sistemas de existência, de energia e de telecomunicações, o modus operandi será completamente diferente. A indústria do papel pode vir a ser substituída por lâminas de LCD dobráveis, aparelhos conectados diretamente às nossas centrais de voz e visão, além de outras peculiaridades já vistas pela arte – porém tudo em tom especulativo, até então.
Por alto, o certo é que neste cenário novo da comunicação os reviews sobre as experiências turísticas na internet estão valendo para a tomada de decisão para onde o turista pretende ir, onde pretende se hospedar e por aí vai.
Está dado que os números do ciberespaço só fazem crescer neste sentido, mas há de se lembrar que ainda são minoria se comparados ao montante de vendas de muitos hotéis, por exemplo. Hoteleiros frequentemente citam o uso desses canais, mas são índices que ainda figuram na casa dos 10, 15%. Daí a afirmação de que o material magmático expele é maior do que a capacidade do vulcão.
Sinal também de que o turista continua sendo irrequieto por si só e não se contenta em ver na tela de seu computador / iPhone / smartphone / MacBook a reserva feita para o usufruto de uma diária hoteleira. Isso, aliás, vai além da noção de compra, e a concepção de conhecimento de destinos turísticos passa pela busca que o visitante faz por intermédio da rede para ver a representação do local, com referências geográficas, históricas, estéticas ou afins.
É conciso que o trabalho com buscadores, sites de reservas e OTAs (On-line Travel Agency) é de suma importância e opera como instrumento de combate à sazonalidade. Tudo parte deste cenário.
Mas é na vitrine artificial montada e desmontada para a experimentação desses canais de internet que deve residir a verdadeira preocupação para o turismo. Eles estão aí e não vão por fim às agências de turismo e ao agente por si só, obrigado. O que precisa ser reavaliado é apenas a forma que esses profissionais terão de trabalhar para articular a funcionalidade do ciberespaço ao trabalho humano – este sim, insubstituível.
A caminhada de fato será vasta e árdua para tanto, mas é o momento profícuo de começar a se repensar uma dinâmica coletiva para aplacar de forma indissociável o trabalho humano às ferramentas tecnológicas. Ainda que soe como verdade inconveniente, o empresariado brasileiro em qualquer esfera busca diminuir tudo o que é capital humano, sempre com olhos inesgotáveis para o lucro. Paradoxalmente, num segmento no qual o sobrenome é serviço, como o de turismo, soa até absurda a premissa.
É na integração que reside a resposta, e não na exclusão de antigas práticas.